Frequentemente, num rifoneiro, encontramos um provérbio afirmativo sobre determinado assunto, e o seu contraditório, mais à frente, na mesma obra. Ou seja, outro ditado que contradita o primeiro, afirmando o contrário. Como se fora uma tentativa de, ocupando todo o espaço das hipóteses, a sabedoria (popular) fizesse o seu pleno, de forma a que a verdade não se escapasse, nunca.
Talvez apercebendo-se deste aspecto singular, Mia Couto (1955), num pequeno conto do seu "Cronicando", glosa, na esteira e estilo de um Guimarães Rosa, com ironia, o facto. Manipulando vários provérbios, em metamorfose subtil de palavras, cria como que um anti-adagiário credível, que propõe ao leitor. Mas dêmos-lhe a palavra, através do parágrafo inicial da crónica "Sangue da avó, manchando a alcatifa":
"Segue-se o improvérbio: dá-se o braço e logo querem a mão. Afinal, quem tudo perde, tudo quer. Contarei o episódio, evitando juntar o inútil ao desagradável. Veremos, no final sem contas, que o último a melhorar é aquele que ri. ..."
A primeira palavra que se surgiu foi: desconcerto.
ResponderEliminarVpu tentar ler.
Os contos são pequenos e lêem-se muito bem. Mas o melhor ainda é ler o "pai" de Mia Couto: Guimarães Rosa.
ResponderEliminarRecorda Chico Buarque, em Bom Conselho (1972):
ResponderEliminarOuça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça:
Inútil dormir que a dor não passa.
Espere sentado
Ou você se cansa.
Está provado, quem espera nunca alcança.
Venha, meu amigo,
Deixe esse regaço.
Brinque com meu fogo
Venha se queimar.
Faça como eu digo,
Faça como eu faço,
Aja duas vezes antes de pensar.
Corro atrás do tempo,
Vim de não sei onde.
Devagar é que não se vai longe.
Eu semeio o vento
Na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade.
Bem bonito e, esse, eu não conhecia. Aplica-se muito bem a anti-adagiário. Obrigado pela sua achega, que veio enriquecer o poste.
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