quarta-feira, 6 de março de 2013

Motivos


Anos a fio, desejei ter por casa uma marinha, para que, sempre que me apetecesse, pudesse lembrar o mar, através da sua representação pictórica. Não um mar à Turner, excessivamente experimental e vanguardista - queria um mar clássico e convencional, apenas.
Acabei por me contentar com uma pequena tabuínha, de autor desconhecido, que comprei, improvavelmente, num alfarrabista, onde três ou quatro rochedos ocres são lambidos pela espuma branca das ondas e o areal é uma fímbria magra e estreita de hesitante limite.
Nem todos os artistas são atraídos pelas águas, mas António Carneiro (1872-1930), por exemplo, tem uma pequena tela do mar nortenho português, maravilhosa (Arpose: "Primavera", 21/3/2010), em tons róseos de manhã fria, verde azul e escuro, e branco da espuma das ondas - era uma marinha assim que eu gostaria de ter.
Pelo contrário, João Hogan (1914-1988) pintou, obsessiva e intensamente, Monsanto na sua aridez de camadas sobrepostas de terras e rochas, quase sempre sem pessoas, como se pretendesse sublinhar os tempos e, quem sabe, talvez a solidão. Como dizia Eugénio de Andrade: "Não se escolhe, é-se escolhido."

7 comentários:

  1. O quadro de Hogan (pintor que aprecio muito) é lindo. Parece de um deserto.

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  2. Penso que Hogan, injustamente, está muito esquecido e sub-valorizado. É o que faz ser discreto, em vida...

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  3. Concordo com MR e aproveito para fazer publicidade: a minha mãe é pintora e tem algumas marinhas - além de que deve aceitar encomendas :) Aqui fica o link da página dela http://emiliamatosesilva.com/Pintura.aspx?GRP=5&GRPSUB=3

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  4. Muito obrigado, Margarida, já me tinha apercebido. O problema, de momento, é que a paredes estão (quase) cheias e a bolsa (quase) vazia..:-(

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  5. Poderia ser a paisagem sem fim que se vê do castelo de Monsanto...
    Seja o que for, é muito bonito.

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  6. Creio que nunca fui ao castelo de Monsanto, mas que o quadro é bonito, lá isso é. Mas este Monsanto que Hogan pintava, era o lisboeta.

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  7. Então se era o lisboeta, deve ser mesmo o mar...

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