Ordem, desordem e ser
Reencontrei este caderno. Não estava perdido. Pelo contrário; mas tão bem arrumado que eu próprio não me reconheci. Saía fora dos meus hábitos. Perdi o meu fio condutor, a minha «desordem». Mas a desordem própria e pessoal, e familiar.
Para não as perder, ponho sempre as coisas onde as costumo colocar espontaneamente. Nunca se esquece aquilo que se faz todos os dias.
A desordem real é o desregulamento desta espécie de regra, a derrogação da frequência. É colocar as coisas num lugar pensado laboriosamente, - ou encontrado enfim após muitas tentativas, combinações, desvios ou afastamentos sucessivos da tendência, como uma descoberta, um novo Mundo, uma solução rara...
Então, para reencontrar o objecto, eu sou obrigado a procurar uma certa reflexão para onde nada me conduz.
Mas se ele foi arrumado sem reflexão, basta que me reencontre a mim, em bloco e no conjunto - isto é, basta-me ser.
Se a tua regra é a desordem, tu pagarás por ter posto tudo em ordem.
Segue a tua regra.
Paul Valéry, in Tel Quel II (pg. 201).
Como eu o entendo. :)
ResponderEliminarHá sempre ordem na desordem. :)
ResponderEliminarSão realmente de uma penetrante atenção, a si e aos outros, estas palavras de Valéry.
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