Celebrar a morte é de alguma forma, também, dar valor à vida.
Na casa, havia um cofre monobloco, enorme para minha idade, de cor verde escura simpática, aquando do leilão. A empresa tinha-se afundado, e já devia rendas. Esse terá sido o meu primeiro contacto com a casa.
Mas foi por volta de 1908 que lá entrou um grupo humano composto por duas mulheres e um homem. O homem criou o seu negócio no rés-do-chão e foi bem sucedido. Habitava nos dois andares de cima. Chamava-se Manuel. A irmã, que habitava com ele, era Amélia. Era gorda, optimista e folgazona.
Virgínia, a outra mulher, nas fotografias, parece habitada de melancolia. Em 1910, teve uma filha, nascida em Novembro. Seis meses depois, morreu - tinha 25 anos. Dizem que, quando nasce um Escorpião, alguém da mesma família, pouco antes ou pouco depois, morre.
Por volta de 1926, o homem que se chamava Manuel, por motivos de saúde, foi internado. Veio a morrer no ano seguinte. A jovem adolescente e a tia separaram-se e, cada uma, foi habitar uma casa diferente. A casa primitiva foi alugada a uma empresa que veio a falir, cerca de 30 anos depois. Daí o leilão.
Muitos anos depois, em 1998, a casa foi vendida a uma empresa comercial familiar. Começou um novo capítulo, para a casa, uma nova vida. Mas, em relação a esse novo capítulo, já eu não tenho nada a ver.
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