domingo, 11 de novembro de 2012

O que a direita não perdoa à esquerda


Estou à vontade para o dizer, até porque nunca fui um grande admirador do recente ex-líder do BE, embora lhe reconhecesse méritos indiscutíveis. No seu conjunto, no entanto, apreciava mais o estilo e a prática política de um Miguel Portas, prematuramente falecido. Mas ao mesmo tempo ficava, e fiquei surpreendido de, até na hora da despedida, verificar a sanha carniceira com que, alguma direita cavernícola, se atirava e atirou a F. Louçã. Sobretudo uma direita que não é ideológica, mas simplesmente emotiva, irracional.
Percebo, hoje, algumas das razões que estavam (estão) por trás disto. Louçã era inteligente, era um acutilante orador, um economista respeitado, um político preparado e coerente.
A direita ultramontana sempre preferiu um Papa-açorda a chefiar a esquerda. Um promíscuo que se adapte, um cata-vento ideológico, um fraco, de preferência, mal preparado - porque a direita sabe que, desses, não tem nada a temer. A direita sanhuda não perdoa (ou não perdoou) a um Lopes Cardoso, a Cunhal, a Melo Antunes, a Ferro Rodrigues, a Louçã. A direita sanhuda e ultramontana tem medo destes homens íntegros e coerentes. Porque eles têm princípios, não são corruptíveis, nem mudam ao sabor dos ventos. São inteligentes e não se desviam, um milímetro que seja, da sua coerência de homens de esquerda.

4 comentários:

  1. E todos deviam ser assim, à direita e à esquerda.

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  2. Ganharia assim a Democracia, bem como a relação Política/Cidadão, incomparavelmente.

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  3. Curiosamente, APS, todos esses homens de esquerda que cita foram sempre atacados sobretudo por outros homens de esquerda, também cavernícola e ultramontana.

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  4. Que me lembre, meu caro Artur Costa, apenas Lopes Cardoso foi atacado do flanco esquerdo (pelo PCP), por causa das rectificações que fez na Reforma Agrária, quando foi ministro da Agricultura. Os outros, que recorde, não, a menos que incluamos o período mais aceso do PREC (1974-75). Não se pode confundir discussão de argumentos políticos com ataques soezes. O que constato, já na democracia estabilizada, é que a esquerda portuguesa - para gaúdio e benefício da direita - fez e faz muito pouco, para criar pontes entre si (se exceptuarmos o caso da CML, durante o consulado de Sampaio), enquanto a direita - talvez para tratar da sua "vidinha" - com frequência, facilmente, se agrupa.
    Seja como for, o assunto levar-nos-ia muito longe. E, no poste, importava-me sublinhar a importância da Ética e da coerência, referindo exemplos de honestidade política - que é o que, cada vez mais, vai faltando em Portugal. E , sempre, em prejuízo da Democracia.

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