Fui lendo e lá acabei "O Carrasco de Vítor Hugo José Alves", refundido de "A Infanta Capelista", que Camilo Castelo Branco mandou destruir, talvez a pedido de D. Pedro II, do Brasil. Porque o romance inicial beliscava, e muito, a casa de Braganca. Nem será das melhores obras de Camilo, mas consegue ler-se bem. E aqui vai uma interessante tirada camiliana:
"...Amor espasmódico, amor macabro, amor epiléptico. Há destas tres castas de amor na zona luminosa da mulher peregrina. O espasmódico é o contemplativo; o macabro é o que salta e se estorce nas vascas voluptuosas do deleite; o epiléptico é o que escabuja debaixo da garra da perfídia. Há uma quarta espécie de amor, do qual ninguém faz livros porque é a mais analfabeta: é o amor de mercearia, o amor sebáceo e rúbido como o buril antigo o imortalizou nas cascatas, e no coracao de nossas avós. Encontra-se esta relíquia dos tempos honestos no terceiro andar das famílias cujos chefes labutaram nas suas tendas. Está sentado na travesseirinha do leito nupcial, brincando com os folhos e borlas azúis da almofada. Resfolega, por bochechas de cravelina, frouxos de riso à esposa, quando ela, depois da ceia, desaperta os nastros da ceroula conjugal, enquanto ele encarapuca o marido no barrete de dormir. Nao temos que entender com algum desses amores nesta crónica, exceptuando o primeiro, o espasmódico. Nem Stendhal criou adjectivo tanto ao ponto. Deixemo-nos de cristalizacoes. Espasmos, macabrismos e epilepsias - é o que há. Mais nada.
Nota: que os meus bons Amigos e Seguidores se vao habituando a por o til, a cedilha e o acento circunflexo, onde eu, infelizmente daqui, os nao consigo por...
Nunca li, mas ainda hoje falei de C.C.B. com amigos.
ResponderEliminarAceito que, das quatro, a primeira é a mais subjectiva e, por isso, discutível.
ResponderEliminarErrata:
ResponderEliminareste re-comentário destina-se ao poste "A par e passo 18".
Eu li A infanta capelista - de que, pelos vistos, algum exemplar escapou à destruição -, mas nunca O carrasco de Vítor Hugo José Alves.
ResponderEliminarEspantoso definir a "espécie" «mais analfabeta» de amor, como «amor de mercearia». Expressão mesmo camiliana. :-)))
Da "Infanta...", escaparam muito poucos, porque as páginas foram usadas para embrulhar viandas (carvoaria? mercearia?) e alguns fregueses se aperceberam, a tempo...
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