sábado, 17 de novembro de 2012

Partir


Há um lado íntimo que já me vem de fora e, talvez por isso, alguma coisa me conforta no partir.
Desta vez, não serei eu a fechar a gaveta e a porta, ficando com uma chave, inútil, entre as mãos. Sem saber a quem a dar, porque é apenas minha. E de mais ninguém.
É possível, no entanto, que seja eu a fechar a mala que levarei comigo. Levarei Simenon e Camilo, para ler - está decidido. Para um vacilar momentâneo, que venha ter comigo, que a velhice é, apenas, um antecipar de despedidas. E ninguém deveria sonhar eternidades fictícias ou fúteis paraísos.
Mas, não o posso evitar, porque as viagens me instalam, agora que passou o gosto da aventura, um desconforto, não só físico, também mental.
Adoço-me à ideia dos amigos que me esperam, e não vou sozinho. Lembro-me dos brancos do Mosela, acidulados, frescos, cordiais. E, também - porque lá irei -, das ruelas estranhas de Antuérpia que nunca percorri em Novembro. E, se não partir feliz, irei decerto conformado, atento e completo. De bem comigo e com os outros. Mesmo que não possa, nunca, perdoar à Morte.

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