No seu sucinto e esclarecedor prefácio do livro "Discursos Parlamentares - 1900-1910" (Publicações Europa-América, 1973), sobre Afonso Costa, o historiador A. H. de Oliveira Marques (1933-2007) faz uma abordagem dos tempos finais da Monarquia e dos primeiros tempos da República. É desse prefácio, datado de 27 de Outubro de 1972, que retiramos (pg. 10) o excerto que se segue.
"...Do ponto de vista da luta de classes, o que nos parece bem mais realista encontrar nesse período - para lá de fenómenos ocasionais - é antes um conflito intenso entre média e pequena burguesia, por um lado, e grande burguesia (incluindo nesta os aristocratas e os latifundários), pelo outro. O proletariado, porventura na sua maior parte, foi a reboque desta última. Serviu os interesses dela, mais do que os seus, nesse combate que travou contra aqueles que, no fundo, estavam bem mais próximos das suas aspirações e dos seus desejos. Era para a aliança estreita com a pequena e a média burguesia - quando não fosse para separar as duas e robustecer a primeira contra a segunda - que apontavam os seus interesses reais. Seria essa a única maneira de lutar eficazmente contra a reacção monárquico-clerical, de fortalecer o novo regime e de assentar uma sólida plataforma de acção onde se construiria a tão almejada república radical. A partir daí, novas formas de combate surgiriam, sem dúvida. Mas, sem isso, as conquistas do novo regime soçobrariam mais cedo ou mais tarde, como soçobraram quase todas. ..."
Com excepção de algum proletariado de certas zonas industriais de Lisboa, o caciquismo funcionava. Aquilo que é descrito em A Morgadinha dos Canaviais ainda perdurou muitos anos.
ResponderEliminarDe acordo. E acho que é uma análise muito lúcida a que O.M. faz.
ResponderEliminarClaro.
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