terça-feira, 26 de outubro de 2010

Fragmento


É este olhar espantado ( ou alumbrado, como eu gosto de dizer) nas fotografias, e as mãos, pousadas sobre a mesa como se fora sobre um piano, como pergaminho onde o Sol, vindo da janela a Sul, denuncia a idade pelas fendas ou rugas, essas manchas acastanhadas que vieram para ficar. Mas sob isso tudo, as palavras como notas cristalinas ressurgem ainda, tão jovens que sobressaltam as rugas na testa (que, na emoção, ficava totalmente lisa), o olhar já baço e mate, um perfume de morte que respirei, de memória, há pouco.
Ainda me voltarei para trás, arrependido, a ver o vulto negro que se afasta, e cujo rosto e olhar nunca mais se cruzou, vivo, com o meu. Apenas uma mancha sem voz nem face, de memória, na praça medieval, e para sempre.

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