quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O abuso das palavras


O plano da linguagem do dia-a-dia obriga ao uso, muitas vezes por câmbio, abusivo, exagerado e insensato de palavras, para expressarmos um mesmo grau de veemência, ou "qualidade" expressiva, em relação ao Outro. Como num restaurante aonde vai chegando mais gente e onde se vai falando cada vez mais alto, para nos ouvirmos, até se chegar a um ruído quase insuportável.
As palavras vão assim perdendo a sua força própria com o uso inapropriado. E com o abuso que fazemos delas. E, com elas, perdem também força a expressão dos nossos sentimentos, das nossas reflexões, dos nossos próprios argumentos. Como na poesia, em que poema após poema, o poeta repete o jogo malabar da experiência adquirida e do fogacho iluminado sobre o vazio inócuo.
Há, creio, no geral, três possíveis alternativas: ou recuperar palavras antigas que, há muito, já não usávamos, nos casos em que afirmação pessoal se quer autêntica; ou a utilização de novos vocábulos que nos vão ganhando sabor na sua descoberta e aplicação selectiva. Para que os sentimentos, as reflexões e os nossos argumentos possam ganhar um peso diferente ou uma nova pureza.
A terceira alternativa é, cada vez mais, aproximarmo-nos do silêncio.

4 comentários:

  1. Gastámos as palavras (acho que alguém já escreveu isto, não estou agora a lembrar quem...). E a retórica (no sentido mau do termo) é cada vez mais uma praga. Em suma, estou inteiramente de acordo consigo!

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  2. O verso é do Eugénio, c.a.. O difícil é não perdermos o pé, de todo.

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