É uma aguarela cinzenta com pequenos laivos de azul pálido e anémico a que o sol, por momentos, atende sobre o rio. A neblina desfez-se. O branco das paredes acentua-se, como também o esmaecido café-creme degradado dos prédios mais antigos ressalta de humidade e gretas, como rugas, defronte. Sobressai, quase berrante, insólito, o tijolo vivo de alguns telhados substituídos, há pouco, e onde pousam pombas mansas, e um ou outro melro nervoso, no seu passo miúdo - mas demoram pouco. Duas gaivotas, em voo alto e sereno, sobre o Tejo. Um barco à vela sulca as águas do que parece um lago tranquilo. Palmela envolve-se e resolve-se de neblina, ciclicamente, ao longe.
Ouve-se o rumor quase aveludado e sem freio do 28 deslizando nas calhas lavadas pela chuva, da rua vazia de pessoas. Também um pássaro misterioso inicia um canto sibilino e breve. Sem os gritos roucos, habituais, uma gaivota passou quase rente à janela e, uma das asas, parece acenar-me de perto. Há silêncio, inesperadamente. Até chegarem os arrumadoraes de automóveis, lá para o começo da noite de domingo, com o seu cortejo de vozearia e palavrões...
O fim de semana passou e nem para as compras saí à rua. Os dias fogem... Boa semana, APS.
ResponderEliminarBoa semana, também, para si, c.a..
ResponderEliminarDou conta, agora, que há pouco nada referi sobre o quanto gosto de o ler neste registo, mas desconfio que sabe isso, não sabe? Seja como for, fica escrito.
ResponderEliminar[Ultimamente tenho vindo aqui tão fora de horas, que me falta a coragem para deixar sequer nota que passei. Limito-me a ler. Mas ainda que fora de horas, leio sempre, todos os dias.]
Sei,c.a..Que, ao menos, o intenso trabalho lhe traga retorno. Nada pior que concluir, passado muito tempo, que vestimos a roupa de outrém, sem gostarmos do vestido...
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