sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Soneto à moda antiga


Eurídice, ou a criação poética

Por íntimo discurso ou por fugaz acordo
é que me lanço mudo ao teu encontro, fogo,
como se fora vento a água em que me afogo
e margem possuída a asa em que te mordo.

Como se fora casa o corpo em que me abrigas
e feroz a distância em que me vendo, amor,
calando te persigo e só depois, rumor
tu me pertences. Luz lembrada por antigas

redes de sombra, areia remordida, leve,
onde passaram barcos procurando o mar
desta elegia, morte repetida, neve
onde me perco, amor - sinal de te encontrar.

Eu digo: não te vejo; ou: não me surjas mais
(rasgando a tua face em direcção ao cais...).


1969

5 comentários:

  1. E eu: gostei e acho belíssimo. :) (com um sorriso, mas a sério)

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  2. Muito obrigado, MR. Há um valor acrescido neste meu verde soneto dos 24 anos. Teve o primeiro prémio (Colégio Univ. Pio XII), atribuido por um júri constituído por Ramos Rosa, Rui Cinatti e Gastão Cruz.

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