sábado, 23 de outubro de 2010

Sobre a obscuridade da poesia (moderna) : 2 achegas


1. No verbete sobre Obscuridade da poesia moderna em contraponto à clareza da poesia neo-clássica, William Van O'Connor refere o crítico F. W. Duppee: "...Duppee acrescenta que este estilo é a forma que o poeta tem de exprimir um julgamento negativo sobre as complexidades da vida moderna, sobre a relativa inacessibilidade das ciências, sobre as múltiplas crenças que somos obrigados a descriminar, sobre a separação da arte da vida do dia-a-dia, e assim por diante. Os mitos privados do poeta, a alegoria e a ambiguidade são o modo de dizer não a um mundo que ele não aprova. ..."
Princenton Encyclopedia of Poetry and Poetics (1975), pg. 582.

2. No capítulo Reflexões sobre Sá de Miranda ou a arte de ser moderno em Portugal, Jorge de Sena escreve o seguinte: "...Tudo isto se reflecte, por vezes em dramáticas elipses de concisa síntese, em Sá de Miranda, que é mais uma das ilustres vítimas - típicas da história da cultura portuguesa - dessa divisão contraditória da personalidade entre o passado e o futuro, a tradição e a revolução, o pensamento e a acção, o homem social e o homem moral, que, do Rei D. Duarte a Antero, com o seu ácume em Camões, vem explodir definitivamente em Sá-Carneiro e Fernando Pessoa, (...) Sá de Miranda participa, porém, dentro do carácter contraditório peculiar à cultura em Portugal, e nos aspectos específicos da sua época e da sua personalidade, de uma e outra forma de tortura. A comparação de versões, a observação de como há saltos lógicos que ele não emendou nunca e passagens discursivas que ele retocou deliciadamente, eis o que, efectivamente, revelará que antigo e que moderno coabitavam nele, não menos e não mais que em todos os estrangeirados torturadamente patriotas, espelho de portugueses, desde o Infante D. Pedro, o das Sete Partidas, ao «divino» Garrett. ..."
Da Poesia Portuguesa (Ática, 1959), pgs. 24 e 26.

P. S.: para c.a., na sua "Casa Improvável".

2 comentários:

  1. Foi um fim de semana complicado, só agora vi. (Estou em ânsias de dar um fim a este ano, para poder voltar à tranquilidade da minha Casa ...)

    Venho lendo desde o início, e por isso li primeiro o post mais acima, sobre Sá de Miranda/Camões, Vitorino Nemésio/José Régio. Creio que entendo a ideia, e não deixa de ser curioso constatar que, à medida que a leitura progride, o que era intuitivo em mim, começa, de alguma forma, a fazer sentido... Obrigado, APS.

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  2. Ainda mal (oxalá). [recomentário ao 1ºparágrafo]
    Ainda bem, c. a.. [recomentário ao 2ºparágrafo]

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