sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Salão de Recusados XXVIII : Boca do Inferno


Há vários poetas que o Brasil divide connosco, porque viveram antes da Independência (1822). Entre muitos, Gregório de Matos (1636-1695), filho de pai português (natural de Guimarães). Tinha língua temida e ferina, e poetava com jeito barroco. Por atacar, em muitos dos seus poemas, a Igreja, deram-lhe a alcunha de Boca do Inferno. Mas também criticava a Metrópole: "Que os brazileiros são bestas / E estarão a trabalhar / Toda a vida, por manterem / Maganos em Portugal,...". É dele o soneto (brando) que se segue:

Descrição da cidade de Sergipe d'El-Rei

Três dúzias de casebres remendados,
Seis becos de mentrastos entupidos,
Quinze soldados rotos e despidos,
Doze porcos na praça bem criados.

Dois conventos, seis frades, três letrados,
Um juiz com bigodes sem ouvidos,
Três presos de piolhos carcomidos,
Por comer dois meirinhos esfaimados.

Damas com sapatos de baeta,
Palmilha de tamanca como frade,
Saia de chita, cinta de racheta.

O feijão, que só faz ventosidade,
Farinha de pipoca, pão que greta,
De Sergipe d'El-Rei esta é a cidade.


4 comentários:

  1. Se este é brando, imagino os demais... Mas tem imensa graça.

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  2. Gostei.
    «O feijão, que só faz ventosidade»...

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  3. Mesmo os fesceninos são, em grande parte, interessantes. Mas não me chega a coragem para os cá colocar,LB.

    Ainda bem, MR. Guimarães deve ter culpas no cartório. O Boca do Inferno, filho de um vimaranense, o Lobo da Madragoa (Lobo de Carvalho), vimaranense de gêma. Felizmente que eu nasci em Coimbra...:-)

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  4. Imensa graça... [O Vasco Pulido Valente será vimaranense? :-)]

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