Há uma ideia que se perpetuou, grandemente, a propósito de Jorge de Sena (1919-1978). É a de que era um homem agressivo, de mau feitio e pouco conciliador. Eu tenho, no entanto, uma opinião diferente. Baseio-me nos poucos dados pessoais de que disponho, e no testemunho de Eugénio de Andrade que o conheceu bem. Penso que era alguém que, tanta vez atacado injustamente (por vezes, de forma encoberta e sinuosa), criou uma estratégia inteligente de defesa prévia e um espaço, em volta, que lhe permitia ter tempo e modo de contra-atacar, pensada e engenhosamente. E aí, sim, era, por vezes, agressivo.
Como me preocupo, já, muito pouco com as modas e novidades literárias - que deve ser uma obrigação e dever da Juventude -, só ontem dei pela saída da segunda edição das "Dedicácias" (Março de 2010). Em relação à 1ª edição (1999), vem acrescida do discurso da Guarda, onde Jorge de Sena pronunciou, como convidado oficial, uma exposição de ideias sobre Camões e sobre o dia de Portugal - que eu ouvi, na altura, mas nunca mais tive oportunidade de ler, posteriormente. Comprei, por isso, esta segunda edição da editora Guerra e Paz.
Num folhear ligeiro, apercebo-me de que não consta da obra, pelo menos, o poema de "escárnio e maldizer" dedicado a Alberto de Lacerda. Aliás, Mécia de Sena diz-nos, na Nota Prévia, que faltarão 7 dedicácias...
Transcrevo de "Dedicácias" um dos poemas menos ácidos de Jorge de Sena, em que se refere a Rodrigues Lapa, António Sérgio e Charles S. Boxer.
História Trágico-Marítima
Lapas e Boxers eminentes, Sérgios racionais,
com que prazer glosais erros e culpas
que às naus as afundaram
na carreira das Índias!
Dos carpidores ecoais todas as queixas
de Velhos do Restelo. O que quereis?
Que nada se afundasse
e o império fosse rico?
Ou que ninguém jamais o navegasse
senão entre Coimbra e Celorico?
Parece que ele também tinha uma (ou mais) dedicácia(s) a Óscar Lopes e também não foram publicadas.
ResponderEliminarNão sei o que pensa deste livro, mas eu acho que não adianta nada à poesia de Sena. Por alguma coisa, ele não o publicou em vida.
Um amigo meu que foi aluno de Jorge de Sena diz que era um professor com uma enorme disponibilidade para os alunos.
Realmente, MR, o livro nada acrescenta à poesia,que conhecemos, de J. de S., mas nota-se logo,na leitura, a sua "mão" elíptica e própria. A 1ªedição ofereceu-ma o A.de A. Mattos, e esta segunda comprei-a, sobretudo, por conter o discurso da Guarda, que eu queria, muito, reler.
ResponderEliminarTemos falta, ao contrário de outras gloriosas décadas, de polemistas, sobretudo literárias. Tradição que, embora enfraquecida, ainda se vai manifestando em França ou na Grã-Bretanha.
ResponderEliminarPorém, no caso vertente, nem sequer se propiciou tal tradição cultural: alguns dos alvos há muitos estavam mortos, e não havia direito de resposta possível. O mesmo quanto a Sena, falecido antes da publicação, sendo certo que não se responde a mortos...
Errata: Onde está "polemistas" leia-se "polémicas".
ResponderEliminarConcordo,LB, com as suas afirmações. A polémica, quando elevada e não chocarreira, ajuda ao debate e esclarecimento das ideias, e ao posicionamento de cada um. Seja ideológico,literário,etc. Infelizmente, nos últimos anos (20?,30?) assistimos a uma letargia ou neutralidade pantanosa. Quebrada apenas por questões religiosas pontuais.
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