terça-feira, 20 de julho de 2010

Dylan Thomas, em sequência (II)


Dylan Marlais Thomas (1914-1953), galês, cuja poesia foi sempre escrita em inglês, é ainda hoje um poeta que divide a opinião dos críticos literários. Uns consideram-no um dos melhores poetas do séc. XX inglês, outros acham-no excessivamente retórico e demasiado popular.
Certo é que Igor Stravinsky compôs o "In Memoriam of D. T.", Donovan e John Cale o cantaram e, mais recentemente, em 2000, António Lobo Antunes publicou um livro cujo título sugere, de imediato, (apesar da ligeira mudança de algumas palavras) o início de um dos mais célebres poemas de Dylan Thomas - "Não entres tão depressa nessa noite escura". É precisamente esse poema que iremos traduzir, desse galês de vida excessiva que morreu aos 39 anos, em Nova Iorque.
No poema, sem título, Dylan Thomas incita o pai, octogenário, frágil e quase cego (mas que fora um homem robusto e forte), a resistir, com raiva, à morte - lutando, como fizera toda a sua vida. O poeta utilizou, na composição, a forma "villanelle", frequente em França, no séc. XVI, e que tem um esquema rimático simples. Seis estrofes, cinco das quais são tercetos com rima "aba"; a sexta e última estrofe, uma quadra, com a rima: "abaa". Na tradução, que se segue, não respeitei esse esquema rimático, tentando, no entanto, trair o menos possível o espírito do poema.

Não vás p'la noite mansa, assim, tão complacente,
A velhice deveria arder com raiva até ao fim do dia;
Raiva, raiva contra a luz que vai morrendo.

Embora os sensatos saibam que a treva os espera,
Porque as suas palavras já não têm o fulgor de outrora
Não vás p'la noite mansa, assim, tão complacente.

Homens bons, submersos na última vaga, invocando
As suas débeis façanhas que ondulam na verde baía,
Raiva, raiva contra a luz que vai morrendo.

Homens rudes que prenderam o sol e o cantaram no seu voo
E aprenderam, tão tarde, como lhe ofenderam o destino,
Não vás p'la noite mansa, assim, tão complacente.

Homens sérios, perto da morte, que vêem no olhar turvo
Da cegueira como podem arder, meteoros, e ser felizes,
Raiva, raiva contra a luz que vai morrendo.

E tu, meu pai, aí nas tristes alturas, amaldiçoa,
E abençoa-me agora com as tuas lágrimas ardentes, peço-te.
Não vás p'la noite mansa, assim, tão complacente.
Raiva, raiva contra a luz que vai morrendo.

4 comentários:

  1. Não percebendo nada de esquemas rimáticos, e acreditando piamente que não os respeitou, ainda assim sempre lhe digo que os meus ouvidos conseguem ouvir música [e antecipando uma provável resposta, desde já acrescento que o meu ouvido é sensível... :-)]

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  2. Também gostei desta sua tradução.
    Bob Dylan presta homenagem no seu nome artístico a Dylan Thomas.

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  3. Agradeço, cordialmente, as suas palavras. Sem falsa modéstia, acho que resolvi bem os dois versos-chave. Há, no entanto, mais 2 versos que não me deixaram satisfeito. Fiz o que podia...

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  4. Para MR:
    obrigado pelo lembrete sobre o Bob Dylan. Tinha-me esquecido, completamente. Grato.

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