1. "Opúsculos", tomo III, 1858 (excerto):
"Por mais que a tradição de antigas malquerenças e o ciume da nossa autonomia nos affaste dos outros povos de Hespanha, dos quaes os eventos politicos fizeram, mais ou menos forçadamente, uma só nação, é certo que, apesar de todas as repugnancias entre portugueses e hespanhoes, nas opiniões, nos costumes, nas tendencias moraes de ambas as nações se está revelando a cada passo uma origem comum. Postoque cada uma dellas tenha defeitos especiaes, como os há de provincia para provincia, dão-se alguns tão nossos e tão hespanhoes, que de per si, sem outros adminiculos, provam de sobejo essa comunidade de origem. ..."
Alexandre Herculano (1810-1877).
2. "Uma Campanha Alegre", volume I, Outubro de 1871 (excerto):
" A companhia dos caminhos de ferro está abusando um pouco da amizade impaciente que (no seu entender) nós e a Hespanha nutrimos reciprocamente. A cada momento nos facilita entrevistas eternas. Sim, de certo, nós e os hespanhoes meigamente nos amamos! Mas não sentimos a necessidade urgente e ávida de nos precepitarmos, assim, todos os oito dias, nos braços uns dos outros! (...) O paíz não póde em sua honra consentir que os hespanhoes o venham vêr. O paíz está atrasado, embrutecido, remendado, sujo, insipido. O paíz precisa fechar-se por dentro e correr as cortinas. E é uma impertinencia introduzir no meio do nosso total desarranjo, hospedes curiosos, interessados, de luneta sarcástica! ..."
Eça de Queiroz (1845-1900) e Ramalho Ortigão (1836-1915).
Dois textos fantásticos.
ResponderEliminarParece que hoje, felizmente, os portugueses vêem a Espanha e os espanhóis de outro modo.
Também me parece que a relação,hoje em dia, é muito mais pacífica. Do lado económico-financeiro é que ainda há crispação (Santander-Totta,PT...),MR.
ResponderEliminarTanto "Os Opúsculos" e, sobretudo,"As Farpas" são um manancial para rever os nossos tiques perpétuos...
Há posts seus que me dão uma ideia do tamanho da minha ignorância. Este é um deles...
ResponderEliminarSubscrevo a opinião de MR: dois textos fantásticos...
Sobre desconhecermos muito do que não é a nossa área é perfeitamente normal. Eu sou ignorante em muitíssimas áreas. Não se pode chegar a tudo. E é sempre bom, para os curiosos no bom sentido, que haja coisas novas para descobrir.
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