Caríssimo:
Não vou falar de Óscar Lopes e de Mário de Sacramento. Muito menos de Thomas Mann, até porque tu sabes aquilo que evoco ou refiro - uma fraterna Amizade. Que, com o tempo e até com a distância geográfica, cresceu, ganhou raízes fundas, palavras certas e nuas (quando é preciso), entendimentos recíprocos - de voz, de expressão de rosto. Vamos-lhe pôr uma data de princípio: 1960, creio eu. Tu dirás, decerto, 1959, mas julgo que estás enganado. Seja como for, estava para começar a guerra portuguesa, em África. Éramos ainda umas crianças, mas fomos obrigados a crescer muito depressa, com a perspectiva da morte. Porque amávamos a vida com tudo aquilo que ela tem de aventura e milagre. E, hoje, ainda a amamos. Mas porque vivemos a guerra e aspiramos o cheiro da morte, escolhi uma tua fotografia da Guiné, visitando uma tabanca, depois de ser atacada. Mas há sempre ressacas. Ou vestígios. Relembro o teu poema de que mais gosto:
Altas paredes brancas me contornam
E eu invento longas madrugadas
Doiro colinas calmas espaçadas
e a dor de te matar cobre-as de neve
Quanto mais há para dizer, menos sabemos dizê-lo. O essencial, felizmente, conhecemo-lo. Hoje, vai música, também: um pequeno excerto do concerto para violino, de Sibelius. Como estás nas tuas sete quintas, com as netas à volta, não será preciso reforçar este abraço de parabéns que te envio. O de sempre,
A.
Há muitos anos, na "venda" de uma aldeia perdida no Minho, conversei longanente com um ancião que, quando paguei a despesa, me agradeceu: Eu não mereço tanto adeus.
ResponderEliminarEu digo o mesmo, agora.Quando fico grato por me lembrarem que me lembram. E, pese a imodéstia, claro que mereço, porque fui eu que escolhi os amigos.E não os ia escolher maus. Claro que também fui escolhido mas isso é outra história de que poderemos falar daqui a uns 10 anitos...
pelas mesmas razões. Vale?
Atento visitador. E Obrigado.