terça-feira, 30 de abril de 2013

Citações CXXX : Rivarol (2)


Um povo agitado não pode fazer senão execuções.

Antoine de Rivarol (1753-1801).

Léo Ferré, para amanhã

As visitas caprichosas


Não fora eu gostar muito da pintura de Nikias Skapinakis (1931) e teria ficado agastado com a visita, até ontem, nas habituais revoadas acarneiradas, de imensos curiosos sobre um poste esquecido do pintor português de origem grega, que não era visto há imenso tempo e que, na altura, pouco foi visitado. A intensidade foi tal, que até pensei que Nikias teria morrido - mas não. Porque é nestas alturas que os abutres mais se interessam pelos cadáveres, necrofogamente...
Ontem e hoje, também, tivemos uma visita obsessiva que, teimosamente (6, 7 vezes...), clicava obstinada: "joana Pombeiro machado vende capulanas los moçambique", e o Google, pobre coitado, mandava-a invariavelmente para o poste "Apontamento banal" (19/9/12), onde se fala, muito em diagonal, de capulanas...
Mas tenho que agradecer, para ser justo e porque me deu boa disposição, à visita que veio ao Blogue em busca de "Jogo de barbie sem carro parágrafo buicas ceus amigos". Esta, sim, sabia o que queria! Mas o palerma do Google não lhe percebeu a inquietação metafísica e remeteu-a para o poste "Jogos Infantis 9 - Dominó de animais, aviões e carros" (de 11/9/10). O malandro!!!

Pequena história (21)


Ao apresentar aos cardeais do Vaticano a sua última obra, que tinha por tema S. Pedro e S. Paulo, o pintor italiano Rafael (1483-1520) teve que ouvir algumas críticas, que lhe pareceram injustas. A mais repetida era que ele teria exagerado nas faces demasiado rosadas ou coradas dos Santos. Irritado, terá retorquido:
"- Meus Senhores, fi-los tal e qual como estão na bem-aventurança, porque se envergonham de ver a sua Igreja tão mal representada!"

De Federico García Lorca


Caracola 

                    A Natalita Jiménez

Trouxeram-me um caracol.

Dentro dele canta
um mar de geografia.
O meu coração
enche-se de água,
com pequenos peixes
de sombra e prata.

Trouxeram-me um caracol.

A par e passo 39


CVI

As coisas mais trágicas não são as coisas mais sérias. Muitas vezes estão nas antípodas daquelas.
A morte retira toda a seriedade à vida. - É por isso que as religiões acharam por bem fazer da morte uma espécie de acto, qualquer coisa parecida com um casamento ou um exame; e acrescentaram uma via fiduciária subsequente à vida para dar à morte um papel positivo nas considerações sobre a vida, e fazer da vida uma função de variáveis complexas,- e dar enfim à morte um valor actual, exactamente como uma crença com um preço actualizável e negociável.

Paul Valéry, in Tel Quel II (pgs. 228/9).

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Brian Crain : "Voice from the Past"


Marcadores (6)


Se a escolha de azulejos, bonitos como eles são, foi boa, a opção pela temática do bacalhau, para o segundo marcador foi, no mínimo, insólita. Mas resulta pela surpresa...
Foi um bom Amigo que mos ofereceu, recentemente, e a quem, aqui, agradeço.

Hoje e logo pela manhã


São muito raros os escritores que conseguem transformar um acontecimento, mesmo que grave, num momento eterno de Arte, ou numa obra perene. Porque já Drummond dizia, sabiamente: "...não faças poemas sobre acontecimentos"...
Mas, hoje e logo pela manhã, veio a bailar-me na cabeça, o primeiro verso de um poema de Sophia, feito à memória de Catarina Eufémia. Que, no seu microcosmo perfeito, pelo menos para mim, poderia ser uma citação lapidar e essencial. Diz assim:

O primeiro tema da reflexão é a justiça...


domingo, 28 de abril de 2013

Interlúdio 31


Os ventos e o moinho de Alphonse Daudet


A região de Fontvieille (França), aldeia de 3.600 habitantes, que está intimamente associada ao escritor Alphonse Daudet (1840-1897), é muito ventosa. Os seus naturais, e os das cercanias, conseguem distinguir e apelidar cerca de 30 tipos de ventos, dando-lhes nomes muito peculiares, tais como: Manjo Fango, Marin Miéjour, ou o Damo que é uma brisa suave, mas persistente, que faz levantar as saias das senhoras...
Na pequena aldeia existem 4 moinhos, sendo que um deles foi o que inspirou a escrita de "Lettres de mon moulin", e que é uma atracção turística para quem leu e gostou da obra de Daudet. Que ainda hoje é um livro muito apreciado pela juventude francesa. Bastará dizer que, em 2012, no quadro da operação "Un livre pour l'été" foram distribuídos, gratuitamente, 800.000 exemplares da obra, entre a população escolar, por iniciativa governamental.
Ora, e disto nos dá conta e notícia o "Obs.", o moinho de Daudet, construído em 1814, e que laborou incansavelmente até 1915, por dissídio entre o seu legítimo proprietário e a Câmara de Fontvieille, que o explorava turisticamente, encontra-se encerrado desde Dezembro de 2011. O dono alegou, ao tomar posse compulsiva do imóvel, a degradação a que a edilidade o deixou chegar; por sua vez, a Câmara acusa o proprietário de propósitos inconfessáveis...
Quem sofre são os entusiastas da obra de Daudet, que já não podem visitar o célebre moinho, por dentro.

Curiosidades 71 : Veleiros


É um acontecimento marítimo importante, este que, de novo, se irá realizar de 6 a 16 de Junho de 2013, em Rouen, nos cais do Sena. Como em realizações anteriores, constituirá a maior concentração de veleiros a nível mundial, que se realiza, habitualmente, com um intervalo de 4 ou 5 anos, em França. A próxima será a sexta edição. A primeira aconteceu em 1989, para lembrar a travessia do Atlântico Sul do veleiro que transportou, em 1886, a estátua da Liberdade que a França ofereceu aos Estados Unidos, para celebrar a Revolução Americana.
A pajela sobre a Armada du Siècle, em imagem, destinada aos jovens, foi editada em 1999, e tem vinhetas dos veleiros mais importantes que participaram, entre eles, o Navio-escola Sagres II (do lado direito, na vertical, na 4ª posição, a partir de cima) que costuma representar Portugal, muito condignamente, aliás.

sábado, 27 de abril de 2013

1 Zarzuela para 2 Amigos que andam por Madrid


para MR e JAD, com votos de boa estadia!

Greguerías, Pintura e Filatelia


O quadro da imagem é uma obra  do pintor espanhol José Gutiérrez-Solana (1886-1945), que representa a tertúlia do Café Pombo, onde pontificava o escritor Ramón Gómez de la Serna (1888-1963), inventor e autor de milhares de greguerías. A obra do Pintor foi objecto, em 1972, de uma emissão especial dos Correios Espanhóis, que inclui a tela, onde D. Ramón aparece, de pé, a falar. Aqui ficam, traduzidas, mais três greguerías dele:

1. Há que ter cuidado em não pensar coisas demasiado geniais, porque o cérebro só está alinhavado.
2. Uma grande mentira para contar aos meninos é que para ordenhar as camelas é necessário espremer-lhes as corcovas.
3. Uma pedrada na Porta do Sol (praça de Madrid) projecta ondas concêntricas em toda a lagoa de Espanha.

Todos os anos, pela Primavera


Numa pontualidade, que parece confundir-se com o dever, todos os anos, esta planta da varanda a Leste, que me foi oferecida, há longos anos pela N. C., floresce pela Primavera. No ano passado, pelo início de Maio (Divagações 24, em 14 de maio de 2012), com 3 flores, este ano, virada aos quatro ventos, com mais uma floração que no passado, por estes finais de Abril.
Depois, há-de remeter-se ao silêncio de Inverno, numa vivência verde de algumas fortes folhas altas e discretas, e no que parece um humilde esquecimento do seu próprio esplendor e beleza que, na altura devida e própria, florirá, de novo.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

John Bull (1562?-1627) : Galharda


Tema de reflexão


Se a Europa, de algum modo, deve à Inglaterra a liberdade, em vários momentos da História, pela sua resistência corajosa às invasões e aos totalitarismos, não é menos verdade que o seu egocentrismo político é enorme. Acentuado pelos últimos governos britânicos que, em relação à U. E., querem sempre manter um pé dentro e outro fora, de forma a aproveitarem o melhor e recusarem as obrigações de uma solidariedade que deveria ser activa, sempre que isso lhes parece prejudicar os interesses próprios.
Que me lembre, só uma vez, na sua longa história, a Grã-Bretanha deu o braço a torcer, em relação ao Continente. Foi em 1971 quando, finalmente, adoptou o sistema decimal...

Cupidez


É conhecido o provérbio que diz qualquer coisa como: ao leão moribundo, até o burro dá coices.
Sabe-se, também, da presente debilidade física de Nelson Mandela (1918), cuja memória dá claros sinais de enfraquecimento e que já tem dificuldades em reconhecer os mais próximos. Mas não morreu ainda e será sempre um exemplo de tolerância para e no país, África do Sul, que o viu nascer.
O que eu não sabia, e o penúltimo "Obs." (18/4/13) conta, é que a família e os amigos mais próximos já disputam os despojos e o nome do "leão sul-africano". Se os filhos do primeiro casamento utilizaram o título da sua autobiografia ("Long walk to Freedom") para etiquetar uma linha de vestuário, os filhos de Winnie, não se ficaram atrás, e lançaram um vinho com o nome de "House of Mandela". E não só: o seu advogado pessoal (George Bizos), conluiado com mais 2 amigos, companheiros de prisão, têm utilizado em seu proveito os largos fundos (1,3 milhões de euros) do legado de Mandela, que os tinha declarado como representantes. Parece, no entanto, que Graça Machel se tem comportado de forma eticamente responsável, e deve assistir a tudo isto, com grande mágoa.
O que faz a cupidez humana!...

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Uma louvável iniciativa (16)


Não sei se esta iniciativa se mantém, ainda. Mas, durante muitos anos, o Clube Militar Naval endereçava um convite, anualmente, a um artista português para que produzisse uma serigrafia alusiva ao 25 de Abril. Que, depois, no dia da celebração era apresentada e vendida aos sócios. Alguns civis, posteriormente, poderiam também adquiri-la, embora a tiragem não fosse grande.
Armando Alves e Pedro Chorão foram, entre muitos outros pintores e gráficos, dois dos artistas que produziram serigrafias sobre o 25 de Abril, para o Clube Militar Naval. Em imagem deixo o trabalho executado por Armando Alves.

Pelo 25 de Abril, as palavras de Salgueiro Maia (II)


Nota: por uma questão de natureza sequencial, será conveniente ver e ouvir este vídeo depois do que se segue - portanto, o I.

Pelo 25 de Abril, as palavras de Salgueiro Maia (I)


Os grandes acontecimentos são, praticamente, intransmissíveis e só quem os viveu os poderá testemunhar melhor. Por isso aqui fica a primeira parte do depoimento de Salgueiro Maia (1944-1992), um dos mais lídimos e categorizados intervenientes no 25 de Abril de 1974. Para lembrar, nestes tempos que correm ao contrário do que se pretendia, com esse acto corajoso e libertador.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Uma quadra de Sophia, para a véspera


Exílio

Quando a pátria que temos não a temos
Perdida por silêncio e por renúncia
Até a voz do mar se torna exílio
E a luz que nos rodeia é como grades

Sophia Andresen, in As Grades.

Emmanuel Chabrier : Valsa


Retro-soviéticos


Estes rótulos, que vou encontrando pelo meio da colecção de selos que tenho vindo a arrumar, vieram da União Soviética, no início dos anos 80. Mais concretamente, de Leninegrado, remetidos por um tal sr. Aristarov K. Ju., como se pode ver num carimbo do verso. Este senhor, que eu aportuguesaria para Aristeu (indevidamente?), trocava estes rótulos de cerveja com um coleccionador português, que morava na Damaia. O pouco que consigo decifrar das legendas cirílicas, permite-me concluir que a cerveja soviética oscilava entre os 11º e os 13º de graduação. Mais que a graduação das cervejas checas - de que já aqui coloquei rótulos - e muitíssimo mais do que os inofensivos 4/6º portugueses. Resumindo, quanto mais a Leste, mais frio e, por isso, mais graduação, para aquecer. Enquanto nós bebemos cerveja gelada para refrescar, os russos e, por exemplo, o pobre do sr. Schäuble têm que beber cerveja para se aquecer. E é disso que ele deve ter uma inveja danada...

Divagações 45 : pintura, arte e fotografia


Precisamente, 11 dias antes do nosso rei D. Manuel I completar 46 anos, chegou a Lisboa, a 20 de Maio de 1515, e pela primeira vez, à Europa, um rinoceronte. O animal causou enorme curiosidade e admiração. De tal modo a notícia se divulgou, pelo Continente, que, nesse mesmo ano, e através de uma descrição escrita, Albrecht Dürer (1471-1528) representou, por gravura, este rinoceronte indiano. O desenho está longe de ser uma cópia fiel do animal, mas a culpa não terá sido do grande Pintor alemão, mas sim da descrição incorrecta que lhe fizeram.
É minha convicção que o advento e aperfeiçoamento da fotografia, no séc. XIX, terá contribuído, de algum modo para o despontar da pintura abstracta e para o abandono, parcialmente, da transcrição pictórica literal de paisagens e retratos, com maior ou menor fidelidade, em relação aos modelos reais. A imitação objectiva perfeita através dos novos meios (fotográficos), terá ditado a procura de novos caminhos na Arte da Pintura. A pintura abstracta permitiu também, por outro lado, transmitir estados de alma que, até aí, estavam reservados apenas aos escritores e aos músicos.

Obsv.: o rinoceronte branco do postal é oriundo da África do Sul.

Bibliofilia 80 : Sá de Miranda


Transcreve-se, por exemplar, a descrição da obra, feita por José V. Pina Martins (Sá de Miranda e a Cultura do Renascimento, Lx., 1972):
"Vol. in 24º de XVI ff. mais 346 pp. para o texto. Os ff. preliminares contêm o rosto, uma dedicatória do impressor a D. João da Silva, Marquês de Gouveia, as licenças, a biografia, o epitáfio latino e uma tábua com as poesias de S. de M. Já Carolina Michaëlis notou que falta o soneto de D. Manuel de Portugal. Esta edição reproduz o texto de B (edição de 1614), com alguns lapsos a mais, mas não é tão desvaliosa como afirmou Carolina Michaëlis, que dela pouco se serviu."
Podemos acrescentar que, na sequência cronológica das Obras de Sá de Miranda, este livrinho ocupa a posição 5. O nosso exemplar ostenta 3 ex-libris, tendo sido comprado, em Novembro de 1989, num leilão da Soares & Mendonça (lote 3192), por Esc. 13.404$00 (o equivalente, hoje, a cerca de 67,00 euros). Damos, de seguida, uma pequena relação de preços atingidos por esta edição (1677) das obras de Sá de Miranda, ao longo do séc. XX:
- 1932 - Livraria Coelho: Esc. 300$00.
- 1977 - Livraria Camões: Esc. 1.800$00.
- 1998 - Livraria Artes e Letras (na Feira de Antiguidades): Esc. 75.000$00.
O nosso exemplar está encadernado em pele e encontra-se em bom estado de conservação.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Tariverdiev / Shapira : "Unshared Sunsets"


Da Janela do Aposento 33: Impressos e Livros



Antes de ser livro, é preciso que um impressor imprima um qualquer texto numa folha de papel. A folha pode, solitariamente, continuar a sua vida, mantendo-se como folha volante.
E como qualquer vida tem um início, também as primeiras folhas saídas de prelos portugueses têm uma data de nascimento. Neste dia, dedicado ao livro, gostaria de apresentar, portanto, o “primeiro impresso português conhecido”, com data aproximada de circa 10 de Abril de 1488, divulgado, em 1996, por João Alves Dias.


Summario das graças, ANTT

No entanto, e para haver livro como o conhecemos hoje, era preciso que as folhas se dobrassem – uma, duas ou mais vezes – para formar os cadernos, de maior ou menor tamanho conforme as dobras. Depois de juntar os cadernos numa sequência organizada, o conjunto do “livro” seria vendido, em cadernos, para ser encadernado ao gosto do leitor.
Por vezes, as pastas das encadernações, como a da imagem seguinte, eram feitas de folhas impressas antigas, revelando, a investigadores atentos, persistentes e dedicados, segredos bem guardados durante séculos.


BNP, Res. 91 P

Foi o que sucedeu, em 2012, como ficou registado na seguinte notícia.



Para todos aqueles que gostam de folhear, ler ou estudar livros, deixo a imagem de uma pequena brochura que explica mais sobre a história do objecto que hoje se pretende celebrar.


 Post de HMJ, dedicado a JAD

Citações CXXIX : Carlyle


"Um bom livro é a mais pura essência da alma humana."

Thomas Carlyle (1795-1881), no discurso em apoio da London Library (1840).

Vestir os Livros


Exibicionistas ou paupérrimas, berrantes ou banalíssimas, de uma indigência estética enorme, as capas dos livros portugueses perderam toda a beleza que os revestiu, quase sempre, no século XX. De Alberto de Souza a Sebastião Rodrigues, do clássico Bernardo Marques ao inovador Victor Palla, os nossos livros eram revestidos de capas lindíssimas e atraentes. Por onde andarão os grafistas e capistas portugueses de qualidade, hoje em dia? Creio que se poderão contar pelos dedos de uma mão, com boa vontade, os herdeiros dos magníficos antepassados, porque não lhes merecem o nome de sucessores...
Neste Dia Internacional do Livro e dos Direitos de Autor, foi este o tema que escolhi para o celebrar. Reproduzindo, com desenhos de Bernardo Marques, as capas de 4 dos primeiros volumes da original colecção Miniatura, da Editora Livros do Brasil, que ainda hoje dá gosto manusear. Porque foram lindamente vestidos, com creatividade e beleza.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Léo Ferré : "É a Primavera"

Regionalismos minhotos (37)


Segue-se, hoje, a terceira parte dos regionalismos minhotos começados pela letra S e respigados da obra de M. Boaventura, que temos vindo a seguir. Tenho a acrescentar que não conhecia nenhum deles, até aqui. Seguem-se, por ordem alfabética:

1. Sarrisco - relâmpago, raio, faísca.
2. Sarronco (ou Sarronca) - papão.
3. Seiada - abada.
4. Senrar - andar para trás e para diante.
5. Sequilhar - comer qualquer coisa para fazer sede.
6. Serandagem - batatas cozidas com bacalhau.

A par e passo 38


CV
Dúvida

Eis um belo título para capítulo: da quantidade de coisas que nós ainda não pensamos pôr em dúvida.
Mas a propósito de dúvida, este grave tema de velhos debates um pouco desaparecidos, não houve nenhum filósofo recente que o tenha conseguido pensar mais profundamente do que Descartes, constituindo-o como ideia e presença da diversidade mental. A dúvida regressa então ao sentimento das variações e em particular à admissibilidade de tais postulados.
Ligar a todo o julgamento a sua verdadeira natureza psicológica e, em simultâneo, o grupo inteiro dos possíveis...

Paul Valéry, in Tel Quel II (pg. 228).

Émulos e rivalidades


Li recentemente um pequeno artigo que falava da rivalidade antiga e recente entre as cidades escocesas de Edimburgh e Glasgow. Os partidários chegam a dizer que, esta última, se abre para Oeste, para a modernidade e para o Novo Mundo; enquanto Edimburgh se volta para o passado do Velho Continente, para Leste. Até lhe atribuem géneros: Glasgow seria feminina, Edimburgh, masculina.
Não pude deixar de pensar na velha rivalidade entre Lisboa e Porto, sendo que a capital do Norte é a única cidade que usa o masculino, para si. Todas as outras cidades portuguesas são femininas... O facto tem sido reforçado e empolado pelos Senhores do Futebol, em seu benefício, de modo a criar um ultra-nacionalismo regional para os seus desígnios. Será que precisamos sempre de um inimigo, para ganharmos força?
Na Alemanha, a dicotomia Köln/ Düsseldorf também colhe os seus frutos e recolhe paixões irracionais e obstinadas. E até no pequeno Minho, a emulação entre Guimarães e Braga desperta sentimentos de animosidade que lograram plagiar um velho provérbio: "De Braga, nem bom vento, nem bom casamento". Que, se calhar, Braga devolve alterando as premissas...
Sinto-me sempre um pouco incomodado com estes extremismos. E dividido: o meu Pai era de Braga e a minha Mãe nasceu em Guimarães...

domingo, 21 de abril de 2013

Rachmaninov-Paganini / Pletnev-Abbado


Apontamentos 7: Estatísticas e Excel


Quando, há dias, falava num dos meus Apontamentos sobre o assunto em epígrafe, já tinha saído, no jornal DIE WELT, o quadro sobre a riqueza dos povos europeus e que, de seguida, reproduzo.


Os resultados apresentados e elaborados, supostamente, com base em dados do Banco Central Europeu, indiciavam que, no Sul da Europa, e sobretudo em Portugal, as pessoas eram mais ricas do que na Alemanha. Ora, tal "verdade matemática", para além de me ter levantado, na altura, sérias dúvidas, não podia enquadrar-se melhor na actual voragem, política e mediática, de humilhar o Sul da Europa perante um Centro, pagador e - imagine-se - mais pobre ! A máxima da Alemanha pobre calhou mesmo bem na - silenciosa - campanha eleitoral da Srª Merkel e que, afinal, permite engrossar as forças de extrema-direita.
Ora, com data de hoje, o mesmo jornal, e no seu tom de pasquinada sem vergonha, surge com um novo quadro, sobre a mesma matéria, mas com os resultados exactamente ao contrário.


Os jornalistas, na sua desfaçatez, não encontraram melhor título do que: "O mito da riqueza dos estados do Sul da Europa" (!)
Por outro lado, parece que também a estratégia da austeridade se deve a um "erro de cálculo" numa folhinha chamada Excel.
Ora, da minha parte não posso com tanto erro - numa área que se diz matemática e objectiva - assente numa óbvia estratégia de manipular a opinião pública para esconder os verdadeiros intentos do mundo financeiro e do capital sem regras.

Post de HMJ

Bastardias


O que a gente se gasta!, por vezes, na profissão que nem sempre escolhemos, e nos coube. Sobra, no final,  a prática, em conhecimentos externos ao nosso saber de gosto mais íntimo, como se fossem desamores consentidos, a que demos guarida por compaixão, fraqueza e necessidade. E que, às vezes, acabam por ser úteis na babel das nossas vidas. E surpreender quem nos conhece, mais de perto. Porque destoam, não fazem conjunto, na extravagância e na distância do que, verdadeiramente, somos.
Coisas que vieram à mão, por necessidade e pelo acaso, sem as desejarmos, mas que acabaram por nos compor o perfil, retocar o retrato, integrar, também, a nossa física realidade humana.

sábado, 20 de abril de 2013

Ticiano


A propósito da recente saída de uma extensa biografia de Ticiano (1485?-1576), escrita por  Sheila Hale, o último TLS, pela pena de James Fenton, dedica um longo artigo ao grande pintor italiano, recenseando, com elogios o trabalho da biógrafa. É referido também que os únicos pintores europeus, cuja reputação de mestres nunca sofreu alterações, mantendo uma estabilidade constante, foram apenas 3: Rafael, Rubens e Ticiano. Esta última afirmação só me surpreendeu por incluir Rubens...
Por outro lado, uma melhor atenção à obra de Ticiano, e ao que dela diz Vasari, permitiu, recentemente, que a National Gallery (Londres) atribuisse, em definitivo, ao pintor italiano, o retrato de Girolamo Fracastoro (reproduzido em imagem), poeta que é conhecido, sobretudo, por ter dado nome, pela primeira vez, à sífilis. O quadro, que integra o acervo do Museu, desde 1924, era considerado como apenas pertencente à escola de Ticiano, e encontrava-se nas reservas da National Gallery.

Interlúdio 31 : anos 20/30...

...quando fumar, mesmo para as Senhoras, era politicamente correcto.

Duplicações


Com o tempo, os arquivos demasiado cheios e a memória, cada vez menos infalível, acabamos por ver filmes que já tinhamos visto, e comprar livros que já tinhamos nas estantes. Se, no meu caso particular, há algumas (poucas) duplicações intencionais, é porque gosto de ter sempre à mão, nos dois locais onde me possa encontrar, alguns autores de eleição. É o caso das obras de Sá de Miranda, da lírica de Camões ou de alguns livros de Eugénio de Andrade. Porque, se a poesia, muitas vezes, urge, a prosa pode, quase sempre, esperar...
A última das duplicações involuntárias, só dei por ela ontem e o livro já o devo ter comprado, há meses. Sente-se sempre algum desconforto nestas constatações do esquecimento. Mas tem remédio, há um amigo meu que também gosta de ler o Graham Greene... Nem tudo se perdeu.

A. Falconieri / J. Savall

Adagiário CXXVIII : Fama


1. A fama é o mais douradouro dos túmulos.
2. A quem é famoso não faltam parentes.
3. Onde vai o galo da fama, não têm os frangos que fazer.
4. Mais vale cair em graça do que ser engraçado.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

De Manuel Machado (1874-1947), retrato em verso de Filipe IV


Nada mais cortesão nem mais polido
que o nosso Rei Filipe, que Deus guarde,
sempre de negro até aos pés vestido.
Tão pálida a sua pele, como é a tarde,
cansado o ouro do seu cabelo ondeado,
e dos seus olhos, o azul, cobarde.
Sobre o seu augusto peito generoso
nem jóias perturbam nem correntes
o negro veludo silencioso.
E em vez de ceptro real, segura apenas
com desmaio galante, uma luva diante
da branca mão de azuladas veias.

António Guerreiro


Foi uma transferência discreta, sem holofotes, sem títulos, nem barulhos mediáticos.
Se me é lícito concluir da sua ausência de escrita no "Expresso" e da sua aparição numa coluna do ípsilon, no "Público", o ensaísta António Guerreiro passou a escrever, aquilo que pensa, à sexta-feira, semanalmente, em vez de ao sábado. E noutro jornal. Numa clara declaração de interesses, devo dizer que concordo muitas vezes com ele. Com as suas sérias análises, com a suas fundamentadas denúncias.
Anda muita gente ingénua a comer gato por lebre, a ler folhetins ou histórias cor-de-rosa por verdadeira literatura. Convenhamos que há quem se contente com pouco e seja feliz - é lá com eles...
António Guerreiro estabelece, hoje, no ípsilon, a diferença entre um publicitário e um escritor. E bem.
Fica a imagem, que se pode clicar para ler devidamente. Mas a leitura do ípsilon será mais cómoda.

Eleni Karaindrou / Haim Shapira : Adagio (versão para piano)

Valéry: algumas questões pertinentes e polémicas sobre Pintura


"...Porque nada, de agora em diante, é feito com modelo. Quase tudo é feito sem estudos prévios; ou antes, quase tudo não é senão estudos, mas ainda estudos inutilizáveis! Um bom estudo deve ser ainda mais arrojado do que um quadro, e permanecer na penumbra do atelier. Nunca ser posto à venda, ou ir para um Museu.
Como se chegou a este ponto?
É porque de início, a ideia de hierarquia entre as obras e entre os géneros se esgotou. Se duas ameixas sobre um prato valem o mesmo que uma descida da cruz ou uma Batalha d'Arbelles, e podem valer infinitamente mais; se um croquis de X vale infinitamente mais que uma imensa tela de Y..."

Paul Valéry, in Degas, Danse, Dessin (pg. 139).

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Santarém, Outubro de 1917


Enquanto na Rússia se viviam tempos de mudança e revolução, em fins de 1917, este postal, pelo seu texto (que omito por respeito e pudor), permite pensar que, em Santarém, os tempos eram tranquilos e aprazíveis. 
É legítimo também pensar, pela finura deste postal francês, que é errada a ideia de que Portugal é Lisboa, e o resto é província... Pelos vistos, em Santarém, também se podiam comprar destas preciosidades.
Há sempre algo de misterioso nestas mensagens antigas, aparentemente ingénuas, mas sibilinas. O recado, no postal, é um tipo de declaração que, nos dias de hoje deixa muitas dúvidas; e a legenda na imagem reza assim, traduzida do francês: "Diz, reconhecerás tu o delicado emblema/  De uma alma que suspira, e de uma amiga que te ama!"
Em suma, o que poderei dizer é que, em Santarém, a 28 de Outubro de 1917,  a Feliciana estava muito preocupada com o silêncio inesperado da sua amiga Maria, em Lisboa.

Graciliano Ramos por Agrippino Grieco


No seu livro "Poetas e Prosadores do Brasil", o crítico e ensaísta brasileiro Agrippino Grieco traça, do seu ponto de vista, um retrato curioso do romancista Graciliano Ramos (1892-1953). Aqui o deixo:
"...Conheci o autor em Maceió. Passava eu por lá, em direcção a Recife, quando José Lins do Rego, Aloísio Branco, Valdemar Cavalcanti e Graciliano me foram buscar a bordo, para, nas duas ou três horas de parada do navio, correr a cidade, comer um sururu e ver as formosas igrejas da terra. Mas uma das coisas que vi com mais gosto foi o romancista dos «Caetés», alto, magro, pouco palrador, sem nenhum talento no sorriso, com um jeito de revisor suplente de jornal aqui do Rio, dos que recebem sempre em atraso. Indo para a terra, ou voltando para bordo, num desses barquinhos a vela, desarticulados e bambaleantes, que parecem ameaçar-nos sempre de inquietante mergulho, quase não lhe ouvi dez palavras.
Li-lhe depois o volume de estreia e verifiquei que tal romance era bem de tal homem. Nada de gastar saliva inutilmente. Nada de consumir papel quando não seja para dizer qualquer coisa realmente proveitosa ao gosto ou à sensibilidade dos demais.
Mas é estranho como esse patrício se conservou assim discreto, pouco verboso, pouco gesticulante, numa zona de derramados, de criaturas que gostam de despejar metáforas às carretas nos livros. E que civilizada finura manteve em lugares como Palmeira dos Índios, onde o seu livro decorre e onde, se não estou equivocado, foi prefeito, por sinal que prefeito pouco panglossiano quanto aos frutos da própria administração, aludindo com desdém meio swiftiano à sua municipalidade e respectivos munícipes. ..."

Em sintonia musical com o poste anterior: Rossini

Mais um


A idade acaba por ser, quase sempre, uma comprida despedida. De pessoas e lugares, com todo o desconforto de os ir perdendo.
Também já aqui o afirmei: costumo ser fiel aos meus barbeiros, desde que sejam bons artífices. O sr. José, transmontano áspero, nascido numa aldeia próxima de Chaves, era um excelente barbeiro, lento no trabalho, mas perfeccionista, e já me cortava o cabelo há mais de 13 anos. Reformado, mas de boa saúde, ainda trabalhava, com os seus 68 anos, como bom e rijo Sagitário. Mas como a Barbearia Celeste não era dele, fecharam-lha à falsa fé. Ainda procurou uma pequena loja, para montar o seu próprio negócio, nas redondezas e na Baixa, mas os preços de aluguel eram incomportáveis. Resignou-se e foi para casa.
Por isso lá tive que mudar de Fígaro. Procurei nas cercanias e optei por uma Barbearia, onde exercem função 3 barbeiros (dois, bem sexagenários, mas activos) e mais duas manicures de provecta idade. Mas faltou-me aquela ambiência restaurada pelo Arquitecto Raúl Ramalho, nos anos 60, com espelhos que alargavam o horizonte e o truca-truca ritmado das tesouras do Sr. José, da rua 1º de Dezembro. 

A preguiça mental e a ignorância do nosso tempo


Duas das últimas search words, que chegaram ao Arpose, deixaram-me a pensar na singularidade destes tempos que atravessamos. E sobre o que vai nas cabecitas de alguns cibernautas que por aí andam à deriva.
Um deles escreveu assim: "oque que é CXXIII em romano". E o Google mandou-o, simplesmente, para o poste "Adagiário CXXIII : Março". Será que já não se aprende a numeração romana nas Escolas?
O segundo visitante pôs, ao motor de busca, a momentosa questão: "analise o louro chá no bule fumegante", e teria sido mais correcto, talvez, ter-se dirigido à A. S. A. E.. Mas o Google, sempre prestável e piedoso, remeteu-o para a transcrição, aqui no Blogue, do célebre soneto de Correia Garção.
Será que as pessoas deixaram, em definitivo, de pensar? Possivelmente, o segundo visitante, embora graúdo, ainda gosta de Cerelac - ou seja, papinha já mastigada...

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Piazzolla / Shapira

Os dias internacionais de...


Creio que, amanhã, se celebra o Dia Internacional dos Monumentos. Estas celebrações fátuas, talvez configuradas para formatar o mundo e intensificar o comércio ou o turismo, deixam-me relativamente indiferente a obrigações devotas e ao cumprimento das boas regras, por considerar, neste acerto de datas, uma intenção obscura.
Se o CCB, a Expo 98 e ainda os megalómanos estádios do Euro luso, hoje, desertos (de que algumas virgens normalmente ofendidas nunca se queixam...), estão aí para testemunhar o tempo em que os euros chegavam, diariamente, da Europa, para serem gastos rapidamente, hoje, a situação é outra - estão a cobrar uma factura que nos custa os olhos da cara.
Há quem afirme, talvez malevolamente, que Joana Vasconcelos é a artista do Regime (este, português). Não irei tão longe, nem me sinto capaz de tal afirmação. Mas se tivesse que escolher, para amanhã, um monumento português, para o Dia deles, não escolheria o Palácio da Ajuda, com certeza. Anteriormente, optei pela pequena igreja de Bravães. Este ano, escolheria a pequena e rústica igreja de S. Miguel, junto ao Castelo de Guimarães.
Ambas estão mais de acordo com as nossas posses. E são robustas, porque aguentaram séculos e séculos de delapidação nacional, de indiferença e de governantes incultos e medíocres, resistindo tenazmente no seu granito pobre, mas sério.

Entre a Poesia popular e o Esconjuro

Já aqui o referi: sou um grande apreciador de monografias regionais. Ensinam muito naquilo que há de saberes práticos, ligados à terra, desde a agricultura ao tempo, de mezinhas naturais a costumes. Talvez seja um saber menor, este que se pode encontrar numa monografia bem feita, com informações sobre personagens secundários da História, episódios curiosos e pitorescos que, apesar de interessarem, sobretudo, às pessoas do lugar, têm quase sempre agrado. De uma monografia sobre a Lourinhã, de Mário Baptista Pereira, passo a transcrever:

Oração para afugentar as trovoadas

-Santa Bárbara se levantou
Seu pezinho direito calçou,
Jesus Cristo perguntou:
-Onde vais Santa Bárbara?
-Vou espalhar a trovoada!

-Espalha-a lá pra bem longe
Onde não haja pão nem vinho,
Nem rama de S. Martinho,
Onde não se ouça cantar os galos
Nem tocar os sinos.

Em geminação e desagravo, para MR e LB, no Prosimetron


Por contraste, civilidade e decoro, aqui vai um cavalheiro composto, bem arranjado e minimamente vestido. Trata-se, nada menos, do que o Duque d'Epernon, Jean-Louis de Nogaret. Para dar o exemplo ao despudorado e sumariamente vestido, cavalheiro (?) que apareceu no Prosimetron, todo encalorado e mal vestido...

terça-feira, 16 de abril de 2013

Schnittke / Argerich & Kremer

Citações CXXVIII : Jorge Ferreira de Vasconcelos


"Onde há verdadeiro amor não cabe desprêzo, e os amores de princípio levam a ser depois públicos. Porque as mulheres querem que as mereçam por tempo. E aos homens por isto lhes é forçado fazerem muitas coisas na praça que danam ao diante. ..."

Jorge Ferreira de Vasconcelos (1515?-1585?), in Comédia Eufrosina.

Galway Kinnell (1927, E. U. A.)


Lua Cheia

O dia é de nós ambos.
A lua do nosso simples saber
E que era meia lua
Esta noite fez-se cheia.

Menina do tempo ameno,
Possa a lua nesta nossa nova terra
Enviar uma luz leve
P'ra saudar o tranquilo amanhecer.

Até que cada coisa seja outra
E que nada interfira
Por entre as metades de uma lua
Que andou toda a noite até se encher.

Uma lição magistral


Não fora H. N. e, provavelmente, eu nunca teria encontrado, na vasta bibliografia de Óscar Lopes (1917-2013), esta pequena lição magistral que constituiu a Oração de Sapiência, lida pelo Ensaísta, em Outubro de 1953, no Liceu D. Manuel II, do Porto. E que, em 1958, a editora Divulgação fez publicar. Creio ser quase impossível, nas pequenas 34 páginas de texto, historiar melhor a evolução do Homem, desde a sua tosca rudimentaridade inicial até a uma nova barbárie sofisticada que se inicia com os ensaios destrutivos e descoberta da apocalíptica bomba atómica. A concisão do texto literário que acompanha o conhecimento científico e fundamentado, permitem admirar esta pequena, mas magistral lição. Atente-se no primoroso início, que passo a transcrever:
"A História do Homem na terra pode dizer-se que principia com um diálogo entre a mão e o cérebro. O homem tem de comum com os antropóides superiores duas coisas importantes: a posição erecta e a capacidade de opor o dedo polegar aos outros dedos. Mas foi só com o homem que se produziram as consequências mais notáveis destes dois factores. A posição erecta, libertando da marcha os braços, permitiu que as mãos humanas se diferenciassem consideràvelmente dos pés, tanto na sua anatomia como nas suas funções; por outro lado, a posição erecta permitiu que a massa encefálica se desenvolvesse em peso, equilibrando-se verticalmente ao alto da coluna vertebral, em vez de pender desequilibradamente numa extremidade horizontal da espinal-medula. ..."

com os melhores agradecimentos a H. N..