quinta-feira, 18 de abril de 2013

Graciliano Ramos por Agrippino Grieco


No seu livro "Poetas e Prosadores do Brasil", o crítico e ensaísta brasileiro Agrippino Grieco traça, do seu ponto de vista, um retrato curioso do romancista Graciliano Ramos (1892-1953). Aqui o deixo:
"...Conheci o autor em Maceió. Passava eu por lá, em direcção a Recife, quando José Lins do Rego, Aloísio Branco, Valdemar Cavalcanti e Graciliano me foram buscar a bordo, para, nas duas ou três horas de parada do navio, correr a cidade, comer um sururu e ver as formosas igrejas da terra. Mas uma das coisas que vi com mais gosto foi o romancista dos «Caetés», alto, magro, pouco palrador, sem nenhum talento no sorriso, com um jeito de revisor suplente de jornal aqui do Rio, dos que recebem sempre em atraso. Indo para a terra, ou voltando para bordo, num desses barquinhos a vela, desarticulados e bambaleantes, que parecem ameaçar-nos sempre de inquietante mergulho, quase não lhe ouvi dez palavras.
Li-lhe depois o volume de estreia e verifiquei que tal romance era bem de tal homem. Nada de gastar saliva inutilmente. Nada de consumir papel quando não seja para dizer qualquer coisa realmente proveitosa ao gosto ou à sensibilidade dos demais.
Mas é estranho como esse patrício se conservou assim discreto, pouco verboso, pouco gesticulante, numa zona de derramados, de criaturas que gostam de despejar metáforas às carretas nos livros. E que civilizada finura manteve em lugares como Palmeira dos Índios, onde o seu livro decorre e onde, se não estou equivocado, foi prefeito, por sinal que prefeito pouco panglossiano quanto aos frutos da própria administração, aludindo com desdém meio swiftiano à sua municipalidade e respectivos munícipes. ..."

2 comentários:

  1. Gostei. De Graciliano Ramos li Memórias do cárcere e pouco e já há tantos anos que não me lembro como é a escrita dele.

    ResponderEliminar
  2. Acho-a excelente. E recomendo "Infância", para mim, uma obra-prima.

    ResponderEliminar