sexta-feira, 12 de abril de 2013

A par e passo 37


XCIX
Dos Sons e dos Odores

Os encadeamentos. Não se pode, e por isso não se sabe como reter os perfumes. Se se pudesse e soubesse, que música!
Em relação ao ouvido a variação é entendida - e há encadeamentos, prolongamento possível, música.
Como é possível?
Uma sucessão de odores não provoca senão uma pura sucessão de ideias (no máximo). Mas uma sucessão de sons pode definir um novo ser, porque ela pode corresponder a um acto complexo.
Um som isolado é mais nulo (em geral), do que um odor isolado.

C.
Os odores ignoram-se entre si.

Paul Valéry, in Tel Quel II (pgs. 225/6).


5 comentários:

  1. Que interessante. Gostei deste pensamento.

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  2. Valéry pensa, quase sempre, contra a corrente; e abre novas perspectivas.

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  3. Parece-me que depende dos sentidos de cada um serem mais ou menos apurados.
    e também me parece que os odores se ignoram tanto entre si como os sons. Estes misturam-se e podem dar música; os outros quando as essências ligam bem entre si podem dar perfumes agradáveis.

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  4. lembrei-me agora que se trata de encadeamentos. Mas continuo a defender o que escrevi na primeira frase.

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  5. Eu, realmente, julgo estar mais próximo de Valéry, até porque o olfacto é o meu pior sentido. A vantagem de ler P.V. é que nos faz pensar em coisas que, habitualmente, não consideramos no nosso dia a dia.

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