LXV
O sonho é o fenómeno que nós observamos apenas em ausência. O verbo sonhar não tem praticamente nada de «presente».
LXVII
Pesadelo
O pesadelo, este sonho impotente, que rompe o encantamento, esta imagem enterrada viva, - eleva-se até à precisão mais assustadora, à nitidez do real - Esta nitidez marca o esforço desesperado.
Como o desesperado da véspera busca o sono absoluto, o desesperado no sono procura o despertar.
Como o homem submerso se debate desesperadamente contra a água para vir à tona, os maus sonhos engendram os actos desordenados da memória. A água que afoga, são as acções escondidas dos genes do funcionamento orgânico. O solo que lhe falta para usar as suas forças, - por causa do qual ele as dispersa e as consome em vão e em todas as direcções do espaço, - é a localização e a determinação destas impressões que o atormentam através dum véu.
O sonhador, cujo sonho se prolongasse, dissipar-se-ia, - descarregando todos os seus recursos mentais sobre o vazio; extinguiria todas as suas possibilidades neste vazio.
Paul Valéry, in Tel Quel II (pgs. 205 e 207).
Gostei do LXV.
ResponderEliminarTambém me parece mais clara e linear do que a caracterização do pesadelo que julgo um pouco confusa.
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