segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Bibliofilia 126


Há dias, num serão ameno entre amigos, depois do jantar, a meio da conversa e já não sei porquê, lembrei-me de um poema de António Patrício (1878-1930), dramaturgo ( O Fim, Pedro, o Cru...) e poeta portuense, que foi também diplomata, e que morreu, inesperadamente, em Macau, quando ia tomar posse do cargo de embaixador português na China. Do poema e, mais do que os versos, eu lembrava-me das imagens (classificado que foi como simbolista) e da palavra Corinto.
Quando cheguei a casa, já noite cerrada, fui à estante e, do livro, fui ler o poema (Uma manhã, no gôlfo de Corinto...) que me viera à tona da memória, horas antes. O meu exemplar tem a particularidade de testemunhar uma relação (amiga?) entre duas viúvas, pela dedicatória que ostenta. Póstuma, a obra, de 1942, foi oferecida por Alice Patrício à viúva de Carlos Malheiro Dias (1875-1941). Quanto ao poema, muito sugestivo de imagens, dizem assim as suas três primeiras quadras:

Uma manhã, no gôlfo de Corinto,
comemos grandes cachos-moscatel.
O mar de leite e azul, tinha veios de absinto;
e o teu corpo, ao sol, como um sabor a mel.

Enlaçámo-nos entre loureiros-rosas,
róseos e brancos, alternando, até à praia.
- Não tornam mais a vir as horas dolorosas:
sumiram-se ao cair sútil da tua saia.

E bôca a bôca, a sorver bagos de âmbar,
bem brunidos de sol, e sempre a arder em sêde,
assim ficámos nós até que veio a tarde
deitar-nos devagar sua mística rêde.
...


2 comentários:

  1. Agora lido, este poema não me é estranho. Já devo ter passado por este livro.
    Bom dia!

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    1. Deve ter lido, com certeza. E é um bonito poema.
      Boa semana!

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