segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Variações tangenciais, em volta


Penso que não há sino que, ao ouvir-se, não nos convoque para sons semelhantes na memória de outros locais e idades. Quem traga consigo Pessoa ou Donne ("...que ele também dobra por ti."), estenderá, decerto, mais longe o seu alcance e a humana tentação de compreender. 
Entre a voz do muezin, do alto do seu minarete (tecnologicamente amplificada por microfones, ou não) e o som puro, metálico dos sinos, há a diferença de grau que vai da voz humana até à música, mesmo que em estado primitivo. Que se me perdoe pensar que, neste caso, existe uma evolução cultural. Não tanto, é certo, como entre a barbárie e o século das Luzes.
Não é preciso evocar Nietzsche (1844-1900) e o seu anúncio da morte de Deus. Ocidental, de facto.
Mas é útil, sempre, ter fé. Nem serão preciso velas ou flores, nem câmeras de televisão e palavras compungidas, normalmente primárias e redundantes, ordenadas em coro mediático estandardizado. Bastará uma fé discreta, íntima e silenciosa, moderada, talvez. Laica, de preferência.

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