quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Recuperado de um "moleskine" (4)


As melgas nocturnas, como pequenos dráculas anões, acordaram-me de vez. Ainda nem o Sol era esta laranja de fogo que vai calcinando o azul, por onde vai subindo, a pouco e pouco.
Os actos médicos, de ontem, deixaram-me reduzido à pequenez simbólica da cobaia, mártir. Entre a pressão da ferramenta cirúrgica e a parede lisa - em posição quase fetal. Sem recurso de terceira via. Uma solidariedade improvável joga-se no sorriso amarelo que troco, no corredor, com o meu sucessor, a meio caminho do gabinete médico.
Estende-se a longa passadeira até à noite, como via láctea iluminada de pontos desconhecidos onde, quem há-de ficar, tem direito a palavras mais sérias, estabilizadoras, por paternas e necessárias. Onde o Sol terá já desaparecido, de vez. Substituído pela ternura morna e atenta das palavras.

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