terça-feira, 3 de setembro de 2013

Graham Greene : influências...


"...A influência das primeiras leituras é profunda. Grande é a parte do porvir que repousa nas estantes de uma biblioteca. Elas pesam infinitamente mais sobre o comportamento, estas primeiras leituras, do que qualquer educação religiosa. Estou convencido que eu não teria dado uma falsa partida, aos vinte e um anos, na British-American Tobacco Company, que me tinha prometido um lugar na China se não tivesse lido "A coluna perdida", do capitão Gilson; e sem conhecer Rider Haggard, teria eu ido, mais tarde, para a Libéria? (Isto acabou por desembocar sobre um trabalho na Serra Leoa durante a guerra. Em Oxford, informei-me vagamente sobre a marinha nigeriana, como capaz de me oferecer uma carreira possível.) E isto deve-se certamente a "A filha de Montezuma", com a história da desastrosa retirada nocturna de Cortez, que acabou por me levar, vinte anos depois, até ao México. Em contrapartida "Os Antropófagos" de Tsavo fixaram em mim um vago estereótipo da Africa Oriental, que nem mesmo Hemingway me conseguiu fazer desaparecer. Apenas uma encomenda de uma reportagem sobre os Mau-Mau, em 1951, e o sentimento do perigo nas estradas do país Kikouyou o conseguiram, com sucesso.
A poesia, nesse estado da minha existência, não teve grande significado para mim. A antologia que nos distribuíam, nas classes preparatórias, estava cheia de poemas imbecis, ..."

Graham Greene (1904-1991), in A Sort of Life.

5 comentários:

  1. Interessante e verdadeiro - os livros ajudam a moldar a nossa personalidade.

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  2. Também estou, inteiramente, de acordo.

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  3. Como eu entendo estas palavras de Graham Greene!... muito para além das primeiras leituras.
    Quanto à influência das primeiras leituras, há exemplos concretos, como A cabana do pai Tomás, mais do que mil preleções contra o racismo.

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  4. Eu fui mais para a épica: Rolandos e Nunos Álvares. Mas concordo em absoluto com o efeito ético, porque também li "A Cabana...", em anos tenros de juventude.

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  5. queria ter escrito: que fez mais do que mil preleções contra o racismo. Há sempre umas palavrinhas ou umas letras que ficam só no pensamento. :)

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