domingo, 15 de setembro de 2013

A par e passo 57


O passado, mais ou menos  fantasiado, ou mais ou menos organizado depois de acontecido, age sobre o futuro com um poder comparável ao do próprio presente. Os sentimentos e as ambições excitam-se com a lembrança de leituras, de recordações de recordações, muito mais do que se resultassem de percepções e dados actuais. A característica real da história é de tomar parte na própria história. A ideia do passado não ganha um sentido e não constitui um valor senão para o homem que encontra em si mesmo uma paixão pelo que há-de vir. O futuro, por definição, não tem imagem. A história é que lhe fornece os meios de ser pensado. Ela constrói para a imaginação um conjunto de situações e de catástrofes, uma galeria de antepassados, um formulário de actos, de expressões, de atitudes, de decisões oferecidas à nossa instabilidade e à nossa incerteza, para nos ajudar no devir.

Paul Valéry, in Regards sur le Monde actuel (pg. 13).

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