quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Em louvor de Mértola


Com propriedade geográfica e histórica cronológica, eu poderia dizer que fui conhecendo Portugal, de forma quase clássica. Se Évora se atravessou no meu caminho nos anos 60, só em 1975 atingi o Algarve. Mas só em 1976 visitei Mértola, que logo me encantou. Era ainda um pequena vila, quase abandonada, não ganhara espaço na agenda arqueológica e turística que, mais tarde, Cláudio Torres lhe viria a dar, num amor sem freio de dedicação e vida. Porque essa alcantilada terra alentejana, confluência de tantos interesses e culturas mediterrânicos (e vestígios indeléveis fenícios, gregos, romanos, árabes e, finalmente, portugueses), merecia-o. Dessa primeira visita, em 1976, recordo nítida uma ânfora (romana?) enorme, a frescura de um pátio interior, num Agosto inóspito, e um insólito quintal duplex e alcantilado, em dois patamares, alto sobre um Guadiana exíguo. 
Lá voltei, anos mais tarde, roído de saudades, para estadia mais demorada em casa modesta de turismo rural, com cozinha gigantesca enxameada de compotas campestres, para barrar o pão honesto do pequeno almoço, sobre o rio. Devia ser Junho, e o mês portou-se bem, equilibrado em temperaturas. Do outro lado, no "Casa Amarela", ficou-me no goto e na memória gustativa, um "Borrêgo à Pastora", rústico e simples, com aromas suavíssimos de ervas desconhecidas e mágicas de mouras encantadas. Uma selvagem perdiz estufada a preceito, uma mugem ribeirinha e fresca que trouxemos. Mas também as muralhas, os vestígios da História, que vimos, um lindo tapete de lã artesanal e a simpatia das gentes da vetusta Myrtilis. Tudo estava mais bonito e continuava despretencioso e simples.
Nunca fui a Cancun, nem à Praia das Galinhas, nem à cosmopolita Nova Iorque, para me gabar aos colegas de trabalho, depois das férias, em Setembro ou Outubro. Nem irei. De Portugal, e das cidades antigas, creio que só me falta conhecer Pinhel - digo-o com pena, porque nunca lá estive. Mas aos que não conheçam, recomendo Mértola, vivamente. No Alentejo e sobre o Guadiana. 

para H. N., cordialmente.

8 comentários:

  1. Eu conheço mal o Alentejo e nunca fui ao Algarve (deste não tenho pena mais depressa ia aos Açores...) conhecemos mal o nosso paí por vezes até as nossas cidades que são por certo mais bonitas que uma praia de Cancun.

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  2. Do Alentejo, Évora, sempre; quanto ao Algarve, para mim, tirando Lagos e V. Real de Sto. António e alguma paisagem ainda não vandalizada, é só praia, água temperada e cortiços e cortiços de arquitectura desordenada...

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  3. Então e Silves, caro APS? Quando lia o texto sobre Mértola, que revisitei há pouco tempo e acho um assombro, ocorreu-me também Silves. E, já agora, a cidade velha de Faro, a Vila-Adentro, também merece visitas repetidas...
    Quanto a Pinhel, vivi lá cinco anos da minha meninice (e logo a seguir nos Açores que a Tétisq refere e que vivamente recomendo) e por isso sou suspeita, mas acho que a zona histórica merece bem uma visita...

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  4. Concedo, cara Maria, que a zona envolvente do castelo, em Silves, é cuidada e bem bonita, mas o resto da cidade não me deixou memórias. Quando fui a Faro, e só lá fui 2 vezes, apanhei sempre obras e, a impressão que me ficou, não foi boa. Acresce que o Museu que visitei (Arte Sacra?)parecia um amontoado de velharias, num ferro velho, com muito pó e sujidade. Tavira, eu próprio estranhei não ter gostado, até porque há quem diga maravilhas da cidade. Portimão é que achei um desastre urbano, semelhante no desnorte ao Cacém ou à Reboleira...
    Mas gostei muito, e continuo a gostar de Lagos e de Vila Real de Sto. António. Anotei Pinhel, do que diz, e logo que haja oportunidade, lá irei.

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  5. Gosto de Mértola e do Guadiana. Gosto de cidades e vilas com rios ou junto ao mar.
    A última vez que fiquei hospedada em Mértola foi numa pensão (agora parece-me que foi promovida a hotel) sobre o rio. Não vaia nada como instalação, mas tinha uma vista soberba. Isto aconteceu na minha primeira ida ao Pulo do Lobo, uns tempos antes do Cavaco lá ter ido. :-)))
    Nessa viagem estive em Alcoutim, de que gostei bastante, também. Só que não havia um restaurante onde jantar: «-Jantar?! Só em Espanha! Falem com o barqueiro para vos atravessar.» E lá combinámos. Só que à hora combinada, nem barqueiro, nem barco: «Apareceram aí uns estrangeiros e le foi levá-los a Espanha!»
    Tivemos de andar quilómetros até encontrar um restaurante na estrada, onde implorámos que nos fizessem umas sandes. Acho que algo mudou por aquelas bandas, desde então...

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  6. Aqui há uns bons anos, aconteceu-nos quase o mesmo, em Trás-os-Montes, mas conseguimos almoçar (é certo que um pouco tarde), em Alcanices. E, felizmente, não houve episódio de barqueiro...
    Estas situações, que talvez sejam frequentes, nas populações raianas, deixam-me perplexo...

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  7. Gostava de ir a Mertola - nunca fui. Conheço mal o interior do país e ando há imenso tempo a tentar ir a Castelo de Vide, Castro Marim, Marvão e Portalegre. De Trás-os-Montes só conheço Chaves e Bragança - gostava de lá voltar e conhecer melhor. Tenho uma grande ambição de ir a Freixo-de-Espada-à-Cinta, porque com um nome desses acho deve valer a pena. Queria também voltar a Idanha-a-Velha e a Monsanto. Talvez um dia se proporcione.

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  8. Com a sua idade, talvez eu conhecesse menos terras portuguesas do que a Margarida mas, depois, empenhei-me nisso..:-) E acho que valeu a pena: temos tanta coisa preciosa e bonita, que à partida nem vale a pena ficar de olhos esbugalhados e fascinados pela "estranja". Os alemães é que são práticos e fazem muito turismo "lá dentro" e, normalmente,conhecem muito bem o país - o espaço e território é que são muito maiorese variados, e nunca cansam. Mas também há muitos portugueses, que vão ao estrangeiro para deslumbrar os outros...- fraquezas de espírito.
    A seu tempo, não perca Mértola, mas não vá no Verão: é muito a subir e tem que se andar a pé, para ver bem.

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