Anda o meu Jornal diário, neste período de férias, a fazer umas reportagens sobre casas onde habitaram escritores portugueses. Hoje, calhou a vez ao poeta de "Os Simples", muito embora a casa onde paira a sua memória seja uma reconstituição fiel, na decoração e arranjo, noutro lugar, da moradia autêntica, na Rua de Santa Catarina, no Porto. Esta, adquirida pela Filha, no Centro Histórico portuense, foi inaugurada em 1942. A informação do Jornal é ampla e interessante, e talvez seja uma boa altura para eu voltar a falar de Guerra Junqueiro (1850-1923).
Até porque gostei muito de o ler, na minha juventude, e não sou ingrato nem esquecido. Muito embora, pelo caminho até aqui, eu fosse descobrindo outros poetas que se me foram impondo como preferência. Mas também convém lembrar que, em grande parte da poesia do séc. XX português, há reminiscências, sementes ou ecos de Junqueiro: de José Gomes Ferreira até Ary dos Santos, para falar dos mais conhecidos. E uma parte dos versos neo-realistas muito lhe devem, com aqueles pontos exclamação, revoltados e sofridos.
Foi só nos anos 90 que eu visitei, pela primeira vez, e guiado pela mão de um Amigo, a Casa-Museu de Guerra Junqueiro, no Porto. E me apercebi, com evidência, que a sensibilidade e gosto do Poeta se alargava, com conhecimento, a outras manifestações artísticas: pintura, louça (Delft e Companhia das Índias, principalmente), mobiliário, arte sacra... Dois El Greco, que foram seus, estão hoje no Museu de Belas-Artes, de Budapeste, porque o Estado português não lhos quis comprar por tuta e meia - ontem, como hoje...
Para quem não conheça, é uma sugestão que fica: visitar a Casa-Museu Guerra Junqueiro, no Porto. Vale a pena.
Tenho um fascinio pelas casas onde moraram criadores...o potencial histórico foi anos a fio desprezado por alguns dos familiares ou proprietarios. Coimbra está cheia de exemplos e agora que estou no Norte penso como o lugar onde nasci é peculiar: a cerca de 2 km está a casa onde nasceu Agustina- devoluta em frente ao polo da biblioteca municipal, houve um grupo de cidadãos que sugeriu dar o seu nome ao polo da biblioteca mas, a proposta foi recusada; 2 km noutra direcção a famosa casa de Manhufe do Amadeo de Souza Cardoso a cuidado da familia que tem a amabilidade de a mostrar a pedido consoante tenha disponibilidade, meia dúzia de quilómetro para outro lado a casa do pintor Acácio Lino onde entre outros António Nobre costumava ficar hospedado, hj é residencia artistica( a cerca de 300 metros daqui na Casa do São Brás, António Nobre deixou dedicados versos ao antigo proprietário, hj a casa é particular mas, que se abre uma vez por ano, ao povo que celebra o São Brás). A casa do Pascoaes e os seus manuscritos estiveram até há pouco tempo a 'envelhecer' tristemente, ao encargo da familia...
ResponderEliminarO personagem local mais próximo também era criativo mas, a outro nível - Zé do Telhado , a casa onde nasceu está em ruina, querem fazer um museu mas não há dinheiro..este sitio podia ser muito giro se esses espaços funcionassem em rede ...
Agradeço o seu magnífico contributo, que veio a alargar os meus conhecimentos sobre o tema. Há casos relativamente felizes (Camilo e a sua casa de Seide) e outros tristes, onde terei que incluir, para pena minha, a Casa do Alto (Nespereira), próximo de Guimarães, que Raul Brandão fez construir, e onde morou largos anos com a Esposa, Angelina. Ruinas...
ResponderEliminarAdmito que não se pode construir um museu em qualquer lado, por dá cá aquela palha, mas quando as coisas são importantes há que fazer qualquer coisa, para as perpetuar e manter com um mínimo de dignidade.
É claro que há duas entidades fundamentais, no caso concreto, que deveriam unir-se na vontade: a família do Artista e a Autarquia da zona, até porque o Turismo Cultural sempre foi compensador.
Não posso deixar de lhe agradecer, mais uma vez, e desejar-lhe uma boa noite, nesses seus recentes trinta anos tão frescos e autênticos.
Fica a sugestão anotada, APS, para uma próxima visita ao Porto. E se me permite, para dizer que a ideia da Teresa, destes espaços funcionarem em rede, me faz todo o sentido; porque, é como diz, APS, o Turismo Cultural, é compensador. Vejo pelo que se passa aqui.
ResponderEliminarOutra coisa que me faz pena é a falta de aproveitamento das pequenas estações de caminhos-de-ferro desactivadas por essa país fora e que podiam funcionar como pontos de apoio aos turistas - com cafetaria, livraria, informação turística, venda de material de caminhada, exposição de peças de artistas ou artesãos locais, etc. Creio que através de um protocolo entre as entidades se podiam criar sinergias muito úteis, evitando, muitas vezes, desperdício de dinheiros públicos, criando até novas receitas e dinamizando, ao mesmo tempo, o Interior.
Vai gostar, Sandra.
ResponderEliminarO nosso problema, atavicamente português e endémico, é termos imaginação mas não a sabermos levar à prática muitas vezes. Depois é o regionalismo multiplicado, invejoso e ciumento, que sempre nos dividiu. Por isso é que sou contra a regionalização que, em vez de resolver problemas, os iria aumentar. Embora seja a favor do poder autárquico, equilibrado, mesmo que, no meio de alguns desmandos, contribuiu decisivamente para o progresso de Portugal, nos últimos 39 anos.
Já visitei mais do que uma vez a Casa-Museu Guerra Junqueiro, que me atrai, como deve calcular, sobretudo pelas coleções de porcelana e de faiança, mas vale a pena também por várias outras coleções, como refere.
ResponderEliminarDo Guerra Junqueiro poeta conheço muito pouco - só tenho em casa duas edições antigas de "A Velhice do Padre Eterno", ilustradas por Leal da Câmara, e uma de "A Morte de D. João". Agora, graças ao seu post, fiquei com vontade de entrar mais na obra deste autor, um dos tais que andam muito esquecidos de nós todos...
Também pensei que a visita lhe seria grata, Maria.
ResponderEliminar"Os Simples" são sempre uma boa leitura, embora datada, e Junqueiro, até pelo passado, é sempre uma boa revisitação.
Das casas que Tétisq refere, só a de Amadeu é visitável. Ou a de Pascoais tb já o é?
ResponderEliminarEsta casa de Junqueiro é magnífica porque o poeta foi um grande colecionador.
APS, que outras casas tem o Público apresentado?
Creio que a Casa de Pascoaes é visitável, MR.
ResponderEliminarEsqueci, perdi ou não me lembro da 1ª Casa de Artista "visitada pelo Público". A de Junqueiro é só a 2ª. Havendo mais, eu aviso.
Obrigada. :)
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