Preguiça emotiva, vergonha da lembrança. Horror de viver tal passado. Estas coisas existem, estas tolices reveladoras.
Oh! preguiça do Eu! - não poder irritar o pequeno espaço do cérebro que fará vibrar o tal timbre desde a infância inaudível!
Pressinto que um aborrecimento há muito passado, uma vergonha esquecida, um aguilhão que ficou, retomará todo o seu vigor. Mas, então, o que é o passado? - E, por outro lado, eu decomponho este desconforto. Prevejo-o e evito-o. Divido-o em dois momentos, em dois estados, como se um anunciasse o outro, podendo de alguma forma mitigá-lo, intrometendo-se em todo o seu vigor e crueldade primeira; ou então fazer despertar a minha defesa, criar algo com que o possa afastar, reprimir o desenvolvimento indesejável na minha memória, no meu pensamento. A sombra da ideia aterroriza a ideia.
Paul Valéry, in Tel Quell II (pg. 262).
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