sexta-feira, 26 de julho de 2013

As guerras assépticas e metafísicas de Obama, ou "Arbeit macht frei"


Os duelos tinham regras cavalheirescas e eram um jogo bélico feito de equilíbrios. Nas guerras antigas há variadíssimos exemplos, hoje talvez incompreensíveis e irónicos, das normas e rituais de quem havia de disparar primeiro. A I Grande Guerra, tirando o gás, formatiza-se ainda sob regras humanas de respeito e princípios. Tudo começou a descambar com a II Grande Guerra, com a bomba atómica, as V-2 e o napalm. O desequilíbrio instalou-se, em definitivo, como lei selvagem permitida e aceite. Por força dos mais fortes.
Os drones são a última arma posta em prática. Se, dantes, na guerra, quem matava sabia que podia morrer, gerando-se assim um comportamento de equilíbrios, o uso desta última arma permite branquear as consciências, de uma forma perversa. Como se tudo não passasse de um agressivo, mas inócuo jogo de computador. O manuseador de um drone pode, às 17h00, matar 100 pessoas e, às 19h00, chegar a casa e brincar, tranquilamente, com os filhos. Depois, janta, vê a TV, deita-se, lê um pouco e adormece na paz dos anjos. Os carrascos de Auschwitz ouviam Schubert, na maior das tranquilidades de espírito...

Nota: para quem não saiba, o letreiro Arbeit macht frei (O trabalho liberta) encimava o portal de entrada dos campos de concentração nazis.

2 comentários:

  1. Ando há dias para vir aqui comentar este post, mas os meus fins de semana são geralmente muito atarefados e fui deixando passar.
    É que estou em completa sintonia consigo quanto a este assunto (e a muitos outros, diga-se).
    Não imagina a indignação que sinto com estas novas formas de fazer guerra, quase inócuas para os profissionais da mesma, sobretudo os atacantes, e em que as vítimas são sobretudo civis, tratados como efeitos colaterais, mesmo que sejam aos milhares, centenas de milhar até.
    E a vidinha dos mais fortes que distribuem morte a esmo continua intocável. Acho obsceno!

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  2. Vai sempre a tempo...
    Em grande maioria, as vítimas são, realmente, civis.
    E a questão que me perturba ainda mais é que estas notícias (que já nunca são de primeira página) são recebidas no meio de uma anestesia geral. E aceites como coisa normal...

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