É sabido que, para um investigador sério e escrupuloso, a observação do fac-símile ou da cópia digital de um livro antigo, de um incunábulo ou de um manuscrito, não dispensa a consulta presencial da obra original, em si. O tamanho dos tipos, as anotações manuscritas, as marcas de água do papel, são pormenores, entre muitos outros, imprescindíveis para um estudioso. Que, muitas vezes, as cópias não permitem detectar.
Em números recentes, o TLS abordou as imperfeições da cópia digital do famoso Codex Mendoza (cca. 1542), precioso manuscrito hispano-azteca que, depois de múltiplas vicissitudes, integra o rico acervo da Bodleian Library, em Oxford. A sua consulta directa é, praticamente, proibida, e os estudiosos reclamam, em vão. E, quando raramente, o manuscrito é facultado ao investigador credenciado, a operação é rodeada de altas medidas de segurança e de um aparato de normas draconianas que dificultam o seu estudo.
O último TLS (nº 5754) traz uma carta ao director, em que um leitor (J. R. Maddicot), ironicamente, conta que nos anos 60 e para fazer um trabalho académico, pôde consultar directa e tranquilamente o Codex Mendoza, isolado, num pequeno gabinete e sem qualquer vigilante a observar os seus movimentos. E remata, dizendo: "How times have changed." Eu próprio, tenho uma experiência semelhante, quando adolescente. Pedi, numa instituição de provincia, detentora de uma rica biblioteca, poesias de Francisco Manuel de Melo. Cinco minutos, depois, estava tranquilamente sozinho numa sala, sentado à mesa, com um exemplar da primeira edição (1665) das "Obras Métricas" do poeta Melodino.
A confiança era outra, nesses recuados anos 60...
Com os sucessivos escândalos ( roubos, substituições, vandalismo etc ), tanto por cá como na supostamente mais rigorosa Albion, não é de admirar que os cuidados com as preciosidades bibliográficas tenham redobrado até chegar ao ponto do exagero.
ResponderEliminarNão há dúvida que, nos últimos tempos, aumentaram muito os observadores "curiosos" e a cobiça, LB. Mas também há exemplos suficientes que, muitas vezes, era (é) de dentro que os roubos e danos eram causados. Paga o justo, pelo pecador...
ResponderEliminar"Casa arrombada trancas à porta"...
ResponderEliminarÉ verdade, Miss Tolstoi!
ResponderEliminarHá investigadores e investigadores... Tem de haver bom senso. :)
ResponderEliminarApesar de tudo, mais vale assim...
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