O artesanato profilático industrializou-se definitivamente ao longo do séc. XX, mas ainda me lembro bem que uma boa parte dos medicamentos era feita no interior das próprias famácias, normalmente, na retaguarda. Depois, as mezinhas, hóstias ou comprimidos eram acondicionados em pequenas caixas de cartão, com indicação da procedência e componentes do remédio - como se pode ver na primeira imagem.
Mas era da expressão ser-se pílulas que eu queria falar. Que ainda hoje significa ser avariado da cabeça, não regular bem... Há quem defenda que viria do facto de ao se abrir essas caixinhas de cartão, sem precaução e cuidado, as pílulas se espalhavam e caíam. E também há quem diga que foi por ter havido alguns acidentes (e os actuais laboratórios farmacêuticos ainda hoje os têm...) na composição das pílulas, que se começou a usar a expressão popular: ficar pílulas ou ser pílulas (com o tomar dos comprimidos).
Termine-se com uma quadrinha popular que, se não vem a propósito, é engraçada e ilustra a questão etimológica, com originalidade:
O meu amor tem farmácia
Está lá sempre a fazer pílulas,
Se as continua a fazer
Um dia vou lá e tiro-las.
:-)) Gira, a quadra.
ResponderEliminarGosto muito de farmácias antigas e das palavras "boticário"e "botica".
Já vão sendo muito poucas, pelo menos em Lisboa, essas "boticas" onde se respira o tempo e o aroma das madeiras sólidas e antigas...
ResponderEliminarEste letreiro de farmácia parece ser feito numa tampa de barril. :)
ResponderEliminarBem sugerido, MR, mas a caixinha, ao vivo e embora velha, é bem gira...
ResponderEliminargosto muito dos estabelecimentos que ainda guardam memórias do passado: mobiliário, frascos, azulejos com quadras, fachadas características...em Coimbra também são cada vez menos...
ResponderEliminarNas proximidades do Chiado, ainda há 2 farmácias onde dá gosto entrar...
ResponderEliminarJulgava eu que o não ser bom da cabeça era pirolas!
ResponderEliminarÉ mais uma corruptela popular a que o tempo dá foros de autenticidade...
ResponderEliminarBom dia!
ResponderEliminarTambém eu conhecia a expressão "estar pirolas" ou "ficar pirolas" tomando "pirolas" como corruptela de "pílulas".E repare que é a versão "pirolas" que rima com "tiro-las" na quada popular.
Curiosamente, encontrei no Padre Teodoro de Almeida, no Prólogo do Feliz Independente, a expressão "dourando-lhes as pirolas". Será que era esta a forma usada no século XVIII?
É verdade que a rima assim funciona, Maria, e parece corroborar.
ResponderEliminarHouaiss regista, entre outros significados, plantas (Samatra, América do Sul) que têm virtudes curativas, o que poderá entroncar nas pílulas farmacêuticas, eventualmente. Mas Carvalho Costa refere mesmo: pílulas - expressão popular.
Um bom dia!, para si, também.
Em aditamento, para Maria A.:
ResponderEliminaro dicionário de António Moraes da Silva (1823) refere -
"Pírola. V. Pílula: pirola é como se diz usualmente."
Afinal é uma caixinha... :)
ResponderEliminarInfelizmente, não pude dar a imagem a 3 dimensões...
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