sábado, 13 de julho de 2013

Bibliofilia 84 : mistérios...


Já por aqui o disse: nem sempre há coincidência entre a qualidade literária de uma obra e o interesse e procura bibliófila que provoca. Acontece que muitas obras medíocres despertam, por vezes, uma gula desmedida nos bibliómanos, atingindo assim preços desproporcionados para a sua, intrínseca, qualidade literária. Será o caso, por exemplo, de algumas obras de um hoje obscuro poeta oitocentista, que dava pelo nome de Luis Rafael Soyé, nascido em Madrid, no ano de 1760, de pais estrangeiros, e que veio a morrer, no Rio de Janeiro, em 1831. Há quem o dê como antepassado de Eça de Queiroz (avô), mas não consegui reconfirmar a informação curiosa.
Ora, algumas das obras de Soyé, que foi um autor prolífico, atingem normalmente preços elevados, se tivermos em conta o duvidoso merecimento dos seus versos. Os seus livros, no entanto, têm um certo apuro gráfico e, normalmente, vêm ornados de bonitas gravurinhas. Talvez por isso, a procura desmedida...
Nos meus tempos de maior assiduidade em leilões, habituei-me a ver as licitações desenfreadas sobre duas obras, de autores desconhecidos para mim, que concitavam enorme interesse e gula, por parte de muitos dos frequentadores destas almoedas. Eram elas: "Na«Fermosa Estrivaria»" (1912), de Joaquim Madureira, e "História de um Fogo-Morto" (1903), de José Caldas. A minha curiosidade era muita, para tentar perceber a cupidez dos licitantes mas, como os preços iam sempre muito altos, nunca os licitei, nem comprei.
Bastantes anos mais tarde, no meu alfarrabista de referência, vim a adquirir os dois livros, espaçadamente, no tempo. O livro de José Caldas é deveras interessante, embora de base local (Viana do Castelo), mas que se alarga, pelos temas tratados, à História portuguesa, ultrapassando assim o mero interesse regional. No final dos anos 90, dei por ele Esc. 1.700$00. Foram bem empregues.
O segundo livro, de Joaquim Madureira e que, porventura, passou de moda, embora tenha um título curioso, comprei-o por apenas 2,00 euros, há cerca de um mês, e já o li. É uma espécie de diário verrinoso do primeiro ano da República portuguesa, escrito com acrimónia e algum reaccionarismo. O autor devia ser uma espécie de Vasco Pulido Valente, avant la lettre. Como livro de memórias, não tem interesse nenhum.
Mistérios...

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