Sempre que regresso à região outrabandista, há um olhar a que nunca consigo resistir, pouco antes de chegar ao fim da Ponte. Ao fundo, do lado direito, aqui há uns 15 ou 20 anos, reparei que havia uma pequena enseada, no Tejo, de águas calmas, a que as ruinas de uma chaminé, bem alta, e três paredes calcinadas e semi-derruidas (fábrica antiga de conservas?), davam um aspecto e sabor neo-gótico e fantástico.
Pouco a pouco, o vazio em volta foi sendo ocupado. Primeiro, dois ou três barracos toscos e inestéticos - que pensei serem de pescadores ocasionais e bissextos - foram sendo colocados, próximos da pequena linha estreita das areias ribeirinhas. Depois, três ou quatro pequenos barcos rústicos, que fui vendo atracados à baía, num colorido pálido e balouçante. Mais tarde, uns casinhotos foram sendo acrescentados, numa arquitectura desagradável, mas porventura útil, para quem não tinha casa. E os barcos, na pequena angra, foram também aumentando, com o tempo.
Hoje, para além de cerca de dez casinhotos, reparei que havia uma pequena plataforma sobre as águas, aí a uns 3 metros da areia. Uma espécie menor que fazia lembrar, arremedando, aquelas estruturas oceânicas para pesquisa e extracção de petróleo... O espaço, que antes era de nenhures e belo, na paisagem, foi-se descaracterizando com feiura.
"A Natureza é sempre bela" - não sei quem o disse, nem me lembro onde li a frase. Mas a pequena enseada, no Tejo, que eu tanto gostava de contemplar, mesmo que por breves momentos, e cá de cima da Ponte, foi perdendo o seu encanto quase mágico. O Homem consegue quase sempre destruir o que, naturalmente, é mais belo na Natureza. E, contra isso, nada podemos fazer, a maior parte das vezes.
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