terça-feira, 16 de junho de 2015

O meu jornal



Sair, abre-nos o mundo à concordância ou ao confronto, embora eu goste cada vez menos do exterior, que se me depara. Prefiro a exploração do doméstico, do interior, que é mais neutro, conhecido, embora incomparavelmente mais rico. A velhice tem destas complacências comodistas e conservadoras.
No restaurante outrabadandista, à beira da estrada, fui atendido por uma nova empregada, muito jovem. A lei do tempo é, na verdade, a volatilidade do emprego, a vertigem do serviço estar sempre a mudar. Não tanto por desejo dos que querem trabalhar, mas pelo livre arbítrio do pragmático empregador.
Como grelham na hora, e bem, a vinda do meu prato escolhido demora, e por isso aproveito, entretanto, para ler o meu jornal  de há muitos anos. Que foi bom, de início, dirigido pelo madeirense Vicente Jorge Silva, mas que tem vindo a piorar, depois, cada vez mais. O arquitecto, que se lhe seguiu, destruiu a arquitectura digna do jornal. Mediocrizou-o, a ponto de, pela sua banalidade orientadora, o nóvel director ter sido convidado pela fundação de uma outra grande superfície, para vir a reflectir banalidades consensuais, noutro lado menos público. Deixou o lugar à (escrava?) bárbara, a dos olhos arregalados, que vai progredindo na indigência anterior.
Pois fui folheando o jornal, enquanto esperava que me trouxessem o almoço. Lá vinha o escritor Zinco (o da criativa) a babar baboseiras, o Esteva, findo o breve luto doméstico (mas sempre escrevivente), a falar, britanicamente (pelo menos, não renega a mãe), do tempo, como habitualmente dizendo raspas ou nada. E o porteiro da saida (na última página), bochechudo como a Miss Piggy, mas com barba de três (?) dias, a questionar o filho de um Poeta, também barbudo, mas muito mais conhecido, a ver se ganha a visibilidade, que o seu pobre pensamento e reflexões, lhe não conseguem dar, por si mesmo, Tavares... Uma tristeza.
Que diabo!, Portugal acompanha apenas a mainstream europeia, como bom aluno, que é! Quando L'Obs. dedica 6 páginas, do seu último número, a fotografias, quase sem palavras, da Miss Colômbia-Mundo, em cenários de subúrbio sul-americano, que seria de esperar? Viva a Caras e a Nova Gente, que o futebol é que instrói!
Só de pensar que amanhã tenho que sair, quase fico doente...

4 comentários:

  1. Dê-lhes!
    E esqueceu-se de falar de Malheiros, que continua a omitir que é candidato a candidato a deputado, especialmente porque fala de política como grande moralista.
    E da senhora que diz que tem uma política de educação. E das cartas de leitores, cujos autores se repetem com ridícula regularidade. E do mau português, que por ali abunda, apesar da obsessão com o Acordo Ortográfico.

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    1. Vontade, não me falta, mas que hei-de eu fazer, se as alternativas jornalísticas ainda são piores?! Não li tudo, antes do almoço, por isso não malhei no Malheiros, embora eu lhe perdoe, muitas vezes, quaisquer coisinhas - todos temos fraquezas.
      Os gatos, é verdade, também são mais que muitos, porque já não se dá para o peditório do revisionismo. Perdeu-se a vergonha do português escorreito, com ou sem acordo. Vamos com deus, o acaso e a necessidade...
      Que tenha um bom fim de tarde (que, por aqui, ao menos, está Sol)!

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  2. Boa tarde!, por aqui tb com sol.

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