É indiscutível que "A morte de Virgílio", de Herman Broch, é um livro de culto. Quero eu dizer com isto que as elites bem-pensantes o aconselham, como politicamente correcta e conveniente a sua leitura. Não desprezo estas indicações culturais, mas elas não me obrigam, religiosamente, nem as sigo cegamente. Tenho opinião própria, que prevalece, em matéria de leituras. Creio ser pouco influenciável neste aspecto e acho, também, que as listas de best-sellers são meros jogos viciados e comerciais, com valor semelhante às sondagens. Convém lembrar, por exemplo, que as montras das livrarias, hoje, são pagas pelas Editoras - é o outro lado. As duas faces da moeda: o populacho e o intelectualóide.
Depois da épica leitura de "Guerra e Paz", de Tolstoi, que encarei como desafio e compromisso, achei que estava em condições de arrostar com mais um dos esquecidos e abandonados volumes da minha biblioteca.
Calhou a vez a H. Broch. E lá reiniciei, cheio de boa vontade, a leitura de "A morte de Virgílio". A canícula dos últimos dias e um tédio, que me é próprio, ciclicamente, acompanharam as primeiras 128 páginas do livro, em que um onirismo barroco torrencial denuncia o cenário finissecular vienense que, artisticamente, tem em Klimt a expressão mais elegante e suportável. Se alguns excertos, nestas últimas horas de vida do Poeta romano, no exílio de Brindisi, são exemplares a configurar o processo da criação poética, pela pena de Broch, o circundante é excessivamente caótico, chegando mesmo a ser pernóstico pelo excesso. Lembrei-me de Pessoa (Ai que prazer/ Não cumprir um dever,/ Ter um livro para ler/ E não o fazer...) e abandonei, definitivamente, a leitura - chegava de penitência...
Bem mereço um Simenon, daqueles que guardo com avareza (para ler) e usura gulosa! Último dos Maigret que a Vampiro (nº 639), no seu antigo formato, traduziu e editou (Outubro de 2000), e que não li ainda. O título não é desconforme com o sentimento resultante das minhas leituras de Broch: A paciência de Maigret.
Eu tb já dei para esse peditório... E no liceu tb já tive as minhas penitências: Auto da alma, As pupilas do Sr. Reitor e Viagens na minha terra. Lá os tive que os ler com grande sacrifício. Mais tarde voltei a relê-los todos e devo dizer que gostei imenso do livro de Garrett, mas dos outros... E sou grande leitora de Júlio Dinis, da Morgadinha, dos Fidalgos e da Família inglesa... Há coisas...
ResponderEliminarDesta Morte de Virgílio já aqui falámos...
Parece que a Vampiro para voltar. :-)
Todos passámos por fretes, maiores ou menores, por obrigação, e às vezes por teimosia.
EliminarObras há que são recuperáveis noutra idade da vida, outras irrecuperáveis para sempre. Depois, há a multiplicidade dos gostos que são, quase sempre, intransmissíveis.
O prazer não pode ser objectivo e razão, únicos, da leitura, mas lê-se muito melhor, quando se lê com gosto.
Não era, para mim, o caso deste livro. E achei melho desistir de todo.
Pois, aguardemos pela nova-Vampiro!
Um resto bom de tarde.
Com tanto livro para ler e vida que já não chega para tudo, também já não faço fretes. Só leio mesmo o que gosto. Já não tenciono fazer exames, nem provar nada a ninguém, para quê perder tempo com leituras maçadoras?...
ResponderEliminarBoas leituras, neste dia quente, abrasador...
Os exames eram o cenário de uma boa parte dos meus pesadelos, até acabar a Universidade. Depois, pensei que não havia mais. Houve, o de condução, que felizmente passei à primeira.
EliminarVotos de uma fresca aragem por Castelo Branco, ao fim do dia, como a que agora principiou por aqui!..:-)
Ah! Palmari... Tenho aqui a versão que a Bertrand editou em 1965...
ResponderEliminarHá que rectificar uma afirmação do texto do poste. À medida que avançava na leitura, apercebia-me que já conhecia a história... provavelmente da Bertrand (do livro que tem) que talvez eu tenha, também (Tenho que conferir, mas hoje está muito calor para isso...). Mas há por lá um almoço, em que entram lentilhas, que talvez dê para um poste. Para não falar numa tarte de ameixas e um bagaço com 65º! Nunca cheguei a tanto.
EliminarA edição da Livros do Brasil é que está cheia de gralhas, nem sequer deve ter tido revisão - uma vergonha!
Uma tarte de ameixas sumarenta e perfumada com canela? Ganso de vitela com lentilhas?
ResponderEliminarNesse livro come-se bem e variado: paelha, omelete de ervas, maionese de lavagante, carne de vaca guisada com paprika e couve roxa...
Nota-se que vim consultar o meu livro de receitas favorito, «Simenon et Maigret passent à table»?
... E sublinhe-se que Maigret perdeu, por causa da morte do Perneta, um prato de lagosta (que a sua Madame ia preparar). Ou seria o tal lavagante que refere? Que isto de tradutores, não se pode fiar... Seja como for, era marisco, em qualquer dos casos.
EliminarNo original é «homard», e não «langouste». Lavagante, portanto.
EliminarVai ver que ele acaba por comê-lo. Como lhe diz Madame, «nous sommes patients, le homard et moi»...
Lembrou-me agora um arroz de Lavagante, pontuado pelas respetivas, e abundantes ovas, que comi há uns anos ali para os lados do Grove galego...
Não sei porquê, mas escrevi lavagante com maiúscula...
EliminarTeremos de concluir, enfim, que a sra. Clarisse Tavares (que traduziu para a Vampiro), de piscicultura e correlativos, percebe pouco...
EliminarDe lavagante, não tenho especiais recordações, mas de lagosta, sim.