Há pessoas que são discretas, cuidadosas com os livros. Tratam-nos com desvelo e deixam-lhes poucos sinais, para os vindouros: uma pequena mancha, um pó minúsculo de tabaco, um vinco atenuado de marcação, ao alto de uma página, onde a leitura fora interrompida, um dia...
Outras, têm a mão pesada: os livros acusam acentuado desgaste, vêm sublinhados (a lápis ou esferográfica, até), têm comentários ( que, porventura, serão avaliados por outros, no futuro), anotações despropositadas, algumas cabalísticas e subjectivas mensagens, muitas vezes, ingénuas.
Do livro de Tomas Tranströmer, que acabei de ler - emprestado por um amigo, seu segundo dono - há vestígios grosseiros e abundantes da primeira proprietária, que o terá comprado na FNAC do Colombo, a 25/2/2012, segundo indicação manuscrita.
Imensos comentários a lápis enxameiam uma boa parte das páginas da obra, há muitos sublinhados, observações feitas numa caligrafia tosca, que parece de criança. Mas não é.
E despachou cedo, o livro, essa sua dona inicial. Em justiça poética - talvez pouco isenta e muito rigorosa -, eu diria que a obra de Tranströmer, por sorte, libertou-se. E veio a encontrar folheadores e leitores muito mais respeitosos da sua integridade, por agora.
Até os livros têm sorte e/ou azar...
Que interessante/curiosa análise...
ResponderEliminarRealmente este livro durou pouco na mão da proprietária, se foi comprado em 2012...mas pelos vistos, pelo menos, foi lido, já que tem tantos apontamentos.
Felizmente está agora em mãos que o apreciam.
Modéstia à parte, os meus livros são bem tratados e de cada vez que compro livros em segunda mão, acho que se pertenceram a donos que os apreciaram (e que já não vivos), algures, lá onde estão, ficam contentes por ter sido eu a comprá-los!
Escrevo e sublinho apenas a lápis e sou cuidadosa com eles. Empresto pouco (cada vez menos) e fico mesmo arreliada se me estragam algum.
Os meus livros são uma espécie de tesouro para mim.
Resumindo: acho que os meus têm sorte! :)
(Tenho um do Tomas Tranströmer, que comprei pouco depois de ser prémio Nobel. Antes disso não o conhecia.)
Boa noite:)
É uma poesia estranha ou, pelo menos, diferente - outra cultura, outra maneira de ver as coisas, setentrional, mais reflectida. Tranströmer era muito viajado e, neste livro, directa ou indirectamente, há 3 referências a Portugal: Lisboa (poema que traduzi), Funchal e um poema em que fala de um veleiro português. É um poeta de grande qualidade, para mim.
EliminarJá pensava ou imaginava que a Isabel respeitava e cuidava bem dos livros, pela estima que denota. Mas nem todos são assim, infelizmente...
Uma boa noite, para si, também!
Tb trato bem dos livros. Durante muitos, muitos anos não escrevi nos livros. Eu podia mexer e ler todos os livros de casa dos meus pais, mas tinha que os tratar bem, não escrever e, depois de lidos, tinham de voltar ao sítio de onde tinham saído.
ResponderEliminarNunca me compraram para ler na escola algum livro que houvesse em casa, pelo que li e transportei na minha pasta - com algumas recomendações de o não perder - algumas boas edições. Nessa época, nunca perdi nenhum livro.
O único livro que me lembro de ter perdido foi a biografia de Filipe III (de Portugal) de António Oliveira. Estava quase no final e ficou no vagão-cama do comboio entre Moscovo e São Petersburgo.
Hoje assinalo algumas coisas a lápis nos livros porque se os voltar a ler são-me mais fácil de localizar.
Compro livros em 2.ª mão (alguns em não muito bom estado), mas não gosto de comprar livros sublinhados. Não dá jeito, embora até goste de ver o que quem leu assinalou.
Boa tarde para os dois.
Não tenho nada de Tomas Tranströmer, não o conhecia antes do Nobel e li poucos poemas dele.
ResponderEliminarSegundo a Isabel referiu, parece haver uma tradução para português, de Tranströmer, não sei é quem a fez.
EliminarO meu respeito pelos livros vem de longe e surgiu naturalmente. É raríssimo sublinhá-los, mas ponho pequenos papéis, entre as folhas, para marcar passagens de que gostei ou com que concordo mais. Ou, às vezes, por discordar.
Tanto quanto me lembro desapareceram-me 2 livros, para sempre: "Cryptinas", de João de Deus, um pequeníssimo folheto, e uma primeira edição do Eugénio, que me foi surripiada...E julgo que sei quem o fez.
O livro chama-se "50 poemas" e o tradutor é Alexandre Pastor. É uma edição bilingue da Relógio D'Água de Julho de 2012. (Afinal não o comprei, foi-me oferecido...). Tenho pelo menos um ou dois poemas no blogue.
EliminarBoa tarde:)
Muito obrigado, Isabel, pela sua achega. O tradutor, português, vive há longos anos na Suécia e tem crónicas no JL.
EliminarVou ver os poemas ao seu Blogue.
Boa noite!
Só consegui apanhar um poema de T.T., no seu Blogue, de 10/2/2013: "As recordações olham para mim". E gostei.
ResponderEliminarEu também estive a ver e acho que só coloquei esse...
EliminarBoa noite:)