"... Fui assinante das poesias do Sr. J. d'A. Rangel. O título modesto do volume (As Minhas Poesias) é um destemperado broquel que o autor escolheu para os seus versos.
Não sei se todos os poetas, como o Sr. Rangel, cantam a sua família, e as suas árvores, e os seus amigos, e as suas ninharias da vida.
O certo é que a poesia assim não passa de um traste de família - uma cronologia sem sabor - e o fruto de uma terrena concepção.
Muita charada, pueril e felizmente anunciada no index, e sucessivos sonetos à sua Ilemia - eis aqui os versos do Sr. Rangel, indiscretamente privados da paz de uma carteira, e condenados ao triste caminha do domínio público.
A poesia, que se assenta na podre cadeira do meio-termo, cai.
Se eu fosse poeta, e me favorecessem os meus versos com o misericordioso epíteto de toleráveis - queimava-os. E se a minha família gostasse deles, dava-os a ler à minha família para me não apoquentar com o governo da casa.
Eu dou um conselho a todos os Rangéis do mundo.
Conquistar o nome de poeta é barato e bom.
Nesta época de oiteiros galvanizados a reputação sobe na razão inversa das garrafas monásticas.
Pois bem - quem pôde lá merecer um diploma reveja-se nele, e congratule-se no seio de sua família. Sustente o fogo sagrado dessa reputação vestal, mas não a dê ao mundo em letra redonda, se não quer vê-la descomposta em seu pudor pela mão desatenciosa da crítica.
O conselho é grátis."
Camilo Castelo Branco, in As Polémicas de Camilo - III (pg. 185).
Há grandes poetas brasileiros que versam, magistralmente, sobre as «ninharias da vida».
ResponderEliminarAcho que já me passou pela vista (talvez nalgum jornal) este J. d'A. Rangel. :)
É verdade, até o grande Drummond. Que, por sua vez, aconselhava: "...não faças poemas sobre acontecimentos..." ..:-))
Eliminar