domingo, 3 de março de 2013

Paisagem matinal do dia seguinte


Limpa de pássaros, a manhã abria-se ao sol de Inverno das ruas desertas. Mas, da copa densa da árvore grande, vinham uns flébeis e maviosos trinados de algum pássaro tímido. No café silencioso, onde fui comprar o jornal, dois velhos, debruçados sobre a mesa, pareciam dobrados ao peso dos anos e do tempo a que assistem.
Que terá ficado da raiva de ontem que - mais que justificada - se espalhou pelas ruas das cidades, como um rio caudaloso, justiceiro e vingador? 
Quero acreditar que tenha sido como que um feitiço primitivo, irracional, que atinja os seus propósitos, instintivamente. E que alguma coisa mude, radicalmente, atingindo as causas: uma ira divina, um fulgor bíblico de justiça que destrua os fautores torpes desta "apagada e vil tristeza" portuguesa.

6 comentários:

  1. Não atingirá causas nenhumas, infelizmente. Os fautores torpes de que fala andavam lá pelo meio, de punho também erguido.

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  2. "Olhe que não, olhe que não!", meu caro Artur Costa. Os serventuários do "Sistema" não frequentam manifestações. De ajuntamentos, só as "Reuniões" de estratégia, à porta fechada. Nunca, em ruas abertas à indignação... (salvo os "infiltrados" e, às vezes, os agentes-provocadores).

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  3. E havia alguns, para não dizer, muitos, infiltrados. Em massa colocavam-se no fim da Rua do Ouro e não deixavam passar as pessoas, enquando muitas e muitas saiam pelas ruas Augusta e da Prata, cheias em sentido contrário... Pensava-se que o Terreiro do Paço estava cheio... partia-se pela rua do Arsenal ou pelas outras Ruas laterais, em direcção ao Metro. E, assim, os do contra, podem dizer (Público) o Terreiro do Paço que leva 180 mil, nunca esteve cheio... Estes jornalistas são mesmo cegos.

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  4. Há sempre 2 maneiras, de ver o copo de alguém. Ou, classicamente: meio cheio, ou meio vazio.
    Eu penso que a indignação é quase total, nos portugueses. Mas há, ainda, quem tenha medo, há os que se aproveitam (uma pequena minoria), e os "flaneurs", porque estando "encostados", desvalorizam e assobiam para o lado, à espera da próxima encomenda...

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  5. Não sei se eram 'infiltrados' se é a mania portuguesa de entrar e ficar à porta, não avançar. A rua junto ao Tejo que leva ao Cais do Sodré estava apinhada de gente que ia para o metro, comboio e barcos.
    E também não se sabia qual o programa das festas.
    A verdade é que a manif arrancou às 15h30 (meia hora antes) porque o Marquês já estava cheio.
    Acho que estava mais gente do que em setembro.

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  6. Seja como for, MR, eu penso que o objectivo, em si, foi alcançado. Mesmo que V. P. Valente diga, com a sua habitual, cansativa e cansada, pose de "enfant terrible, que não havia objectivo nenhum - os piores cegos são aqueles que não querem ver.

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