segunda-feira, 5 de outubro de 2015

3 pontos de vista, a propósito da comemoração da República


1. "Se a República não for mais do que a continuação da Monarquia sob outro nome, a Monarquia menos o Monarca; se representar as mesmas tradições administrativas e financeiras; as mesmas influências militares e bancárias; se fizer causa comum com a agiotagem capitalista contra o povo trabalhador; se não for mais do que uma oligarquia burguesa e uma nova consagração dos privilégios pelos privilegiados - em tal caso diremos que nos é cordialmente antipática essa pretendida república de antropófagos convertidos."
Antero de Quental, in A República e o Socialismo.

2. "O movimento do 5 de Outubro, na sua intenção, não nos seus resultados, foi feito contra o tipo de governantes que havia estado no poder. Continuar a obra da República é, antes de mais nada, realizar a intenção, não direi que levou os revolucionários a combater, mas que pôs a boa vontade e o aplauso da nação inteira por trás dos revolucionários. (...) ...Republicana, porque a Monarquia, sendo o sistema concentrador de tudo quanto nos atrasou e fez decair, tem de ser mantido fora do poder, de mais a mais, estando ainda seguindo a mesma orientação no exílio, tendo ainda os mesmos vultos que a comprometeram, não tendo ainda mostrado o menor arrependimento pelos defeitos e erros que a afundaram."
Fernando Pessoa, in Da República (1910-1935).

3. A eternização no poder, ao seu grau supremo, de uma família, por meras razões de sangue e passado, não resiste, como ideal ( mesmo respeitando os contos de fadas), a uma análise serena e racional de contraditório. Deixar ao acaso biológico a obrigação de uma continuidade de sucessão humana, no poder, sempre me pareceu contranatura e levar a situações caricatas, quando não, trágicas, na condução, ou mesmo apenas de representação de um Povo ou de uma Nação. Bastaria lembrar, por exemplo e para o efeito, as loucuras de Jorge III, na Grã-Bretanha, ou de D. Maria I, em Portugal. Fiquemos por aqui...

4 comentários:

  1. Concordo com as citações que escolheu e com o que escreveu.
    E mesmo que em República se eleja algum pateta para PR, ou pessoa menos preparada para o efeito, acho isso preferível a uma sucessão de linhagem, sem que o povo se possa pronunciar. Já não era próprio do século XX quanto mais do século XXI.

    ResponderEliminar
  2. Tb não me parece saudável, em certos regimes ditatoriais, os filhos sucederem aos pais - caso da Síria, por exemplo. Mas isso tem que ser o povo sírio a resolver.

    ResponderEliminar
  3. Sou 'fanzérrima de Leal da Câmara.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Até nas grandes empresas familiares, a sucessão, hoje em dia, não é arbitrária, o que só revela pragmatismo e sensatez..:-)
      Também gosto imenso da obra de Leal da Câmara.
      Bom dia!

      Eliminar