Se fosse vivo, John Updike (1932-2009) completaria, hoje, 78 anos. Com Mary Mccarthy, Salinger e Truman Capote pertence à geração de lídimos sucessores directos da geração de Hemingway, Steinbeck e Faulkner, grandes renovadores do romance norte-americano. Updike é, no entanto, aquele em que a cultura europeia mais se faz sentir. Vermeer, a Inglaterra e a França aparecem na sua obra. Até os Açores surgem num seu poema. Para além duma obra em prosa vasta, foi também crítico de arte e literatura, em colaborações regulares para a revista "The New Yorker". A série de romances que têm por personagem central "Rabbit" (Harry Rabbit Angstrom), "The Poorhouse Fair", "The Centaur" ilustram claramente os seus temas centrais: pequenas cidades de província, classe média, conflitos pessoais ou sociais. Para a poesia deixou as preocupações religiosas, os sentimentos e a morte. As suas figuras tutelares, do ponto de vista filosófico ou religioso, foram S. Kierkegaard e o teólogo Karl Barth. Da poesia, de John Updike, escolhemos um dos seus últimos poemas, publicado em "The New Yorker", em 2003. Intitula-se "Evening Concert, Sainte-Chapelle". Esta Igreja de Paris é uma construção gótica de 1248, celebrada pela luz e cor intensas que se filtram através dos seus altos e belos vitrais. É frequentemente escolhida para recitais de música clássica.
Concerto ao fim da tarde, Sainte-Chapelle
As célebres janelas afogueadas na luz
que vem do norte, derramada através do Sena;
ocupamos, sussurrantes, os lugares. É então que os violinos
celebrando o vigor estridente de Vivaldi, depois Brahms
parecem sorver com doçura apaixonada,
pouco a pouco, a força do vermelho,
o azul de luz intensa, para que o olhar audível
possa ver as duras linhas negras em forma de cruz
e de escudo, suporte e anel que entrelaçam
a sagrada, luminosa fantasia.
A música surgindo; o brilho como leite,
um sussurro para os olhos, reflexo atenuado
até que o bater dos corações, os nossos violinos
se vão cobrindo por finas, mas sólidas folhas de chumbo.
Conheço mal este escritor. E até o desconhecia poeta (vergonha!).
ResponderEliminarNo ano passado assisti a um concerto na Sainte-Chapelle. Se calhar até foi Vivaldi.
Não conheço mas gostei do poema, é magnífica a forma como entrelaça o som e a cor. As expressões «olhar audível» e «um sussurro para os olhos» parecem-me particularmente felizes. Arrisco-me a dizer que é assim que se reconhecem as boas traduções. Estou enganado?
ResponderEliminarEu não dizia... Por favor espreite aqui:
ResponderEliminarhttp://atrama.blogspot.com/2010/03/atencao-aos-sonetos-deste-senhor.html
Para MR:
ResponderEliminarNão é vergonha nenhuma. Fiz o meu trabalho de Seminário (1970/71) sobre o Updike e é natural
que saiba mais um bocadinho sobre ele do que um(a) apreciador(a) de literatura americana. A maior parte das pessoas não deve saber que também era poeta. Cordialmente, A.S.
Meu caro "c. a.":
ResponderEliminarSe não fosse o meu Amigo não teria dado conta desta "tropelia Tramada"... Como sou parte interessada, não me compete a mim pronunciar-me sobre a "bondade" da outra tradução que foi "postada" às 17,40hrs...
De uma coisa, quase estou seguro: é que não levaram tanto tempo a traduzir o poema de Updike.
Eu andei uma semana a trabalhá-lo e, em duas das opções que fiz, não fiquei inteiramente satisfeito. Sobre as sinestesias de que fala, ver/ouvir,o Camilo Pessanha tem algumas geniais.
Uma vez mais obridado pela sua atenção e gentileza. A.S.
Não conhecia o poema e do poeta apenas o nome porque convivo com pessoas que gostam muito da poesia e escrita americanas.
ResponderEliminarGosto imenso de Faulkner e Hemingway.
O poema é bonito e a fotografia também.
:)
Creio já lhe ter dito que o meu inglês é limitado, e que este facto tem condicionado as minhas leituras da poesia anglo-americana. Ler as suas traduções tem-me proporcionado uma maravilhosa descoberta, de um mundo que até agora me estava interdito. Acredite que não o escrevo por desejo de agradar ou ser simpático, mas porque é assim mesmo. O exemplo de hoje é sintomático. Se tivesse lido primeiro o outro post não teria, sequer, chegado ao fim...
ResponderEliminarJulgo que alguém já aqui escreveu que seria bom ter tudo o que já traduziu reunido num livro. Subscrevo, vivamente, essa ideia e desde já declaro que vou querer adquirir, pelo menos, um exemplar.
Meu caro "c. a.":
ResponderEliminarMais uma vez obrigado por tudo aquilo que vou retirando das suas palavras amigas.
Entrei em diplomática controvérsia com o "bando dos Tramados". Há coisas a que não consigo resistir...
Sabe, cheguei àquela fase da vida em que começamos a agradecer a Deus as oportunidades (cada vez mais raras)de dizer a alguém uma verdade que não é cruel. É um privilégio, acredite.
ResponderEliminarEntretanto, através da menção que consta do «post», acho que descobri a autoria da tradução do poema «postado» pelo "bando dos Tramados" P.f. veja aqui:
http://bibliotecariodebabel.com/criticas/esculpir-beleza-na-linguagem/
De qualquer modo, deviam/tinham de identificar o tradutor.
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