Há coisas que não se conseguem explicar. Camilo Pessanha fala, várias vezes, em vinho, nos seus poemas de "Clepsidra". Mas há um verso, que eu decorei, há muito ("...- Da minha vinha o vinho acidulado e fresco..."), e que associo, sempre, ao vinho verde do Minho (e Lafões). Dir-se-á que estou a "puxar a brasa à minha sardinha" e, eu, verdadeiramente, queria é falar sobre mexilhões. Mas voltemos ao princípio, este "vinho acidulado e fresco", bebido em excelente e jovial companhia, foi um Alvarinho "Deu-la-Deu", de 2008. Respondeu, no nosso entender (e espero que JAD também concorde), à exigência dos "Mexilhões à flamenga" que HMJ, com afecto, preparou e fez acompanhar de aipo, cenoura e "échalotes". O alvarinho, como casta branca, encontra-se apenas na sub-região de Monção e nas contíguas "rias bajas" galegas. Ao contrário dos vizinhos vinhos verdes minhotos, onde predomina a casta branca "loureiro", o vinho Alvarinho (em galego, Albariño) pode guardar-se, até 5 anos, na garrafeira. Tem aroma distinto, aromático e frutado, e embora diferente associo-o, na sua classe, ao "riesling" alemão. O nosso monocasta pode ir de seco equilibrado até ao untuoso e pródigo "Vinha Antiga", também português. Dos "albariños" galegos só conheço um que bebi em Barcelona, em Fevereiro de 2008, com HMJ, na "Cervezaria Catalunya". Tinha um nome que permitia toda a expectativa poética dos cancioneiros galaico-portugueses: "Martin Codax". E era muito bom.
Ora, depois dos "Mexilhões à flamenga", seguiu-se uma tábua de queijos: açoriano, um "babão" de Seia e o "Brugge vieux". Aqui, tenho de confessar que a escolha de vinho que fiz não foi a melhor. O tinto do Dão "Campolargo" de 2008, estava ainda um pouco fechado para companhia. Precisa e deve aguentar mais uns 4 ou 5 anos de guarda, no "chiaroescuro" da garrafeira, para amadurar e amaciar... Finalmente, o "tecolameco", respeitosamente, sob receita sábia do "Fialho" de Évora. E, aí, regressei de novo às origens, com o Alvarinho de 2008, que ainda estava "acidulado e fresco", como dizia o Camilo Pessanha.
P. S.: Para JAD, que traz sempre consigo jovialidade e sabedoria.
São uns amores estes meus amigos.
ResponderEliminarOBRIGADO!
E adorei o Deu-la-deu. Vou procurar para servir no Verão.
ResponderEliminarE não levei o prefácio. Faria se o tivesse levado.
Cenouras!... As moules que comemos em Bruxelas só tinham aipo e chalotas. E assim já as fiz umas quantas vezes. Para a próxima, acrescentarei uns cubinhos de cenoura. (Já vi na foto.)
ResponderEliminarGostava de perceber alguma coisa de vinhos porque um vinho bem escolhido melhora muito o sabor de um prato. Mas eu, infelizmente, bebo um vinho e gosto ou não gosto.
Parabéns, APS, por este seu blogue, a que finalmente cheguei.
ResponderEliminarJá entendi qual é o "Sítio do costume"...
Excelente aspecto e excelente ementa.
ResponderEliminarCheguei tarde, mas estou-me a alongar.
ResponderEliminarNo seguimento do comentário de Jad: "Feliz daquele que encontra um amigo digno desse nome" (Menandro).
Seja muito bem-vinda, Miss Tolstoi, com o seu humor, cultura, irreverência de caranguejo-marciano! Fico feliz pela visita.
ResponderEliminarO vinho acidulado (...) eu o bebia
ResponderEliminarhouvesse mexilhão ou não houvesse.
Porque este vinho fresco é uma benesse
quando se bebe em boa companhia.
Mas aqui lembro o Cesário e o malvasia
e a frescura do soneto não se esquece.
Meu Caro:
ResponderEliminar"encore"!...
Gostei muito.
A. S.