domingo, 28 de março de 2010

Um Homem que sabia dizer "não"



Passam, hoje, dois séculos sobre o nascimento de Alexandre Herculano (1810-1877), pai do nosso romance histórico, grande historiador, poeta menor, enorme figura moral que soube dizer "não", muitas vezes, num país em que o "sim" é, infeliz e normalmente, palavra de ordem precursora de prebendas e mordomias...
Pena foi que as nossas altas Instituições, num tempo de moda avassaladora de romances, ditos, históricos - eu diria "esotéricos", e com ironia -, de categoria abaixo de cão, se não lembrassem de promover, a propósito e de forma inteligente, o "Eurico", "O Bobo", o "Monge de Cister" - esses, sim, romances históricos de grande competência de escrita, apelativos, nacionais, no saudável e melhor sentido da palavra. Que fazer?, quando as altas posições da Nação oscilam entre os duvidosos cantos de "Os Lusíadas" e a "música das esferas" (neste caso particular), não conseguindo descer à terra das realidades....
Mudança de rumo: 360º. De volta a Herculano, e sobre a velhice:
"...Mas quando encontro um velho, por cima de cuja cabeça passaram muitas horas de amargura, muitas procelas da vida, e lhe descubro no rosto certa serenidade como a da fronte de mármore de uma dessas estátuas que jazem sobre os túmulos da idade média; quando o recordar-lhe uma grande desventura de outrora não acha eco lá dentro; quando para ele o passado, o presente e o futuro merecem a mesma indiferença gelada e medonha, então digo comigo: um morto porque andará na terra? (...)Daí vem que a presença de um ancião sempre me atrai e subjuga. Que é a vida interior do mancebo, que revela por tantos modos suas cóleras e pezares, seu amor e alegria, seus temores e esperanças? Drama misterioso, história íntima só a há no velho, que passou por todas as vicissitudes do existir, e que encerrou debaixo do selo de bronze de um aspecto impassível as tempestades que rugem ou rugiram nas profundezas do seu espírito. ..."
E, aqui, eu diria que, pela prosa, falou um grande poeta e filósofo português. E um grande Homem.

7 comentários:

  1. Gostei da sua homenagem. Concordo que ele era um "poeta menor" apesar de ter sido nessa vertente que o homenageei.
    Estive para colocar um trecho do Eurico mas acabei por me decidir pela poesia que conheço mal. Decidi ir à procura de um poema... a procura enriquece, não acha?

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  2. Claro, Ana!
    Porque andei pelos romances d'ele, todos;pela "História de Portugal", pela "...da Inquisição", pelos "Opúsculos", pelas "Cartas",
    até chegar a "Scenas de um ano da minha vida" que foi donde retirei os 2 excertos sobre a Velhice, que transcrevi.

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  3. Também deixo o meu abraço. Por vezes é preciso saber dizer Não

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  4. O melhor post sobre Herculano, em que os meus olhos pousaram.

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