O exemplar que se mostra de "O Livro de Cesário Verde"(1855-1886), sendo uma 4ªedição, não é raro e foi impresso, em Lisboa, em 1919. Mas o seu valor estimativo, para mim, é grande. Tem a particularidade de ter pertencido ao poeta Guilherme de Faria (1907-1929), nascido em Guimarães, ostentando data e marca de posse, manuscrita (1920). O Poeta conheceu e deu-se com Fernando Pessoa que tinha, na sua biblioteca, dois livros com dedicatória, manuscrita, do jovem vimaranense; e, no espólio do autor de "Mensagem", havia apontamentos para fazer o horóscopo de Guilherme de Faria. Teve também relações amistosas com Teixeira de Pascoaes, António Pedro, entre muitas outras figuras literárias da sua época. Na sua curta vida, foi autor prolífico. Estreou-se aos 15 anos, em 1922, com "Poemas". Nos anos seguintes publicou mais quatro livros. Mas não chegou a completar 22 anos. No dia 4 de Janeiro de 1929, vindo de sua casa da Rua da Horta Seca, atravessou o Largo Luis de Camões e desceu a Rua do Alecrim até ao Cais do Sodré. Na estação, comprou o bilhete de ida para Cascais. Aí chegado, escreveu dois postais a explicar ou desculpar-se do que ia fazer e meteu-os na caixa do Correio da Vila. Depois, encaminhou-se para a Marginal e, descalço e rezando por um terço, seguiu até à Boca do Inferno.
De onde se atirou ao mar. Dizem que foi uma história de Paixão. E, como estamos próximos da Páscoa, talvez mereça ter sido lembrada, agora.
Grande parte da biblioteca de Guilherme de Faria ficou para o irmão (mais tarde,Frei) Francisco Leite de Faria, grande estudioso da História do Livro, falecido há poucos anos. Mas este exemplar de "O Livro de Cesário Verde" foi parar às mãos de outro dos vários irmãos, de nome, Miguel de Faria. Que lhe colou o seu ex-libris. O volume tem uma encadernação bonita, em pele, e está bem conservado. Custou-me, nos anos 90 do século passado, e na mesma Rua do Alecrim, por onde Guilherme de Faria desceu, pela última vez e em direcção à Morte, Esc. 2.200$oo, ou seja cerca de euros 11,00. Por isso eu dizia que tinha, para mim, um grande valor estimativo. E há-de acompanhar-me até "sempre".
Imagine-se!, nunca liguei Guilherme de Faria ao padre Leite de Faria. Até fiquei com a boca aberta. Literalmente falando.
ResponderEliminarRealmente, lembrança muito apropriada à época. :)
O País é pequeno,MR, e eram 19 irmãos...
ResponderEliminarTodos os dias se aprende.
ResponderEliminarFiquei curioso com a história da Paixão. Desconhecia... mas eu sou um ignorante.
Uma verdadeira "irmandade" - 19!
ResponderEliminarE, sem garantia de absoluto rigor, na "pequena orquestra de câmara" parece que só havia uma menina...
ResponderEliminarCaro APS, pela leitura deste artigo, presumo que conhece o blog www.guilhermedefaria.blogspot.pt. Aproveito para apresentar-lhe o site www.guilhermedefaria.com. Na verdade, o Frei Francisco Leite de Faria não herdou a biblioteca do poeta, foi mesmo o Miguel (biblioteca que foi leiloada na década de 90 pelos sobrinhos do poeta). Em relação aos irmãos: 9 morreram antes de completar o 1º ano de vida; dos 10 que cresceram, houve 3 meninas (a Margarida, a Teresa e a Leonor). Cumprimentos.
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