segunda-feira, 15 de março de 2010

Arrábida sacro-profana



Século XVII : Elegia II, da Arrábida


Alta serra deserta, donde vejo
As águas do Oceano duma banda.
E doutra já salgadas as do Tejo:

Aquela saudade, que me manda
Lágrimas derramar em toda a parte,
Que fará nesta saudosa, e branda?

Daqui mais saudoso o Sol se parte;
Daqui muito mais claro, mais dourado,
Pelos montes, nascendo se reparte...

Frei Agostinho da Cruz



Século XX (196?) : Arrábida


A solidão apurada,
firme gume frente à serra

onde nascemos, e o nome
que recebemos da terra.

Alberto Soares



Século XXI (15/3/2010) : Portinho da Arrábida


Segunda-feira de (quase) Primavera. De tal modo ameno era ficar na esplanada deixando pairar o olhar pela beira-mar. Verdes e azúis até ao infinito. Atrás: a pousada explorada, nos anos sessenta, pelo irmão de Sebastião da Gama, é pertença, agora, da "Casa do Gaiato". O mar puríssimo, ainda de Inverno mas, hoje, sereno, é perturbado apenas pelas vorazes e visíveis taínhas. Não havia hipocampos à venda. Nem vestígios de Frei Agostinho da Cruz; de Sebastião da Gama, apenas um pequeno obelisco, à margem da estrada, e os meus anos juvenis já vão tão longe... Ficaram estes azúis infinitos: escuros, verde-azúis, celestes, pálidos onde o mar toca o azul claro do horizonte. Azul-arrábida...

6 comentários:

  1. Já por lá não passo há uns tempos. É um sítio mágico. Outro, igualmente mágico, é o Cabo Espichel. O mar, o mar...
    http://www.youtube.com/watch?v=tYQbZhWXRwM
    Gostei muito da memória. Obrigada.

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  2. Pois é, meu caro "c. a.", a Natureza volta sempre (Sá de Miranda), a menos que o Homem a destrua- e já esteve mais longe...,o homem, mesmo que queira, só regressa virtualmente por memória, e enquanto vivo. Não sou, no entanto,saudosista. E,filosoficamente,regressamos
    nesta cadeia sucessiva que é a Humanidade, até onde ela existir e continuar.

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  3. Gostei dos poemas. A Arrábida e o mosteiro é especial para mim.

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  4. são especiais, faça-se a correcção.

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