terça-feira, 7 de abril de 2015

Símbolos, dissimulações, necessidades...


Aí pelos anos 70 do século passado, e na empresa multinacional onde eu trabalhava, havia um pequeno jornal interno, mensal, onde, entre outras coisas publicadas, era costume fazer breves entrevistas aos colaboradores. As pequenas conversas davam, também, direito a fotografia. Desses retratos, que recordo, bem à vontade a grande maioria dos entrevistados aparecia a falar ao telefone (fixo). Creio que pretendiam (ou pretendia-se) dar a ideia que eram funcionários muito activos, sempre ocupados, diligentes no seu trabalho diário. Hoje, o telefone terá dado lugar, seguramente, ao emblemático computador pessoal, nas fotografias...
A acolher, como rigorosa, uma informação, que li recentemente, um sexto da humanidade é míope; e, entre os que lêem e/ou utilizam computador, o número sobe para cerca de 24% dos seres humanos - considerável, a miopia!
Os óculos, que atenuam esta debilidade humana, são uma invenção recente, se compararmos os anos com a idade do Mundo. Terão surgido, apenas, no século XIII, em Itália, pela primeira vez - o seu inventor é desconhecido, embora se aventem várias hipóteses. A primeira pintura em que aparecem óculos, usados pelo cardeal Hugo de Saint Cher, surge no ano de 1352, num quadro do pintor Tommaso da Modena (1326-1397).
Por curiosidade, posso informar, com alguma garantia de rigor, que o primeiro artista, neste caso poeta, a aparecer retratado com óculos, terá sido Quevedo, num quadro de Juan van der Hamen (1596-1631), que dizem ser cópia de um outro de Velásquez, anterior. Não sei se esse adereço útil acrescentava, ao grande poeta castelhano, um halo simbólico de sabedoria, ou se provocava, na altura, estranheza ou exotismo, nos observadores. Seria talvez, pelo menos, um sinal de distinção e singularidade. Não teria, com certeza, a mesma carga simbólica, do omnipresente cachimbo nas fotografias de grande parte dos intelectuais do passado século XX. Nem sequer o volume e importância objectiva do telefone e do computador, em anos recentes, para sublinhar a hiper-actividade simulada dos colaboradores, numa empresa de sucesso, destas, portuguesas.


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