domingo, 12 de abril de 2015

Gamoneda, ainda


Eram dias atravessados por símbolos. Tive um cordeiro negro. Não me lembro do seu nome e do olhar.

Ao vir para minha casa, as sebes definiam as veredas que, entrecruzando-se entre si sem levar a 
nenhum lado fechavam as minúsculas pastagens para onde]
eu queria levar o meu cordeiro. Eu brincava como se fosse a perder-me no pequeno labirinto, mas só
até quando começava a ter medo de entrar por mim dentro, como numa]
chaga do meu próprio ventre. Acontecia isso uma e outra vez; eu sabia que o temor me iria possuir, mas continuava a caminhar em direcção às pradarias.]

Finalmente, o cordeiro foi enviado ao matadouro, e eu aprendi que aqueles que me amavam também podiam decidir nas sentenças e administração da morte.]    


Nota pessoal: por uma vez - e porque é sempre redutor -, que se me perdoe dar a minha interpretação de leitura subjectiva deste magnífico poema de Antonio Gamoneda (1931) - : a perda da inocência.

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