sábado, 11 de abril de 2015

Divertimento ou exercício de pretexto para uma história infantil


Era uma vez uma maçãzinha desacompanhada, num caixote de fruta abandonado à porta duma mercearia de bairro, já fechada. Eram dois os homens que passavam, conversando. Um deles apercebeu-se que era um pomo semelhante às pequenas maçãs que apareciam, a Norte, pelo fim do ano. E achou-lhe graça. Como era muito pequena, pegou nela, assim mínima, e meteu-a no bolso, aconchegada no lenço limpo, de algodão, e levou-a para casa, para oferecer à mulher que o esperava. Era uma vez uma pequena maçã verde que ficou sozinha, dias e dias, numa fruteira de uma casa. Até que foi fotografada, sem mais ademanes, para servir de memória futura. Ou para pretexto simples de uma parábola indecifrável, perceptível apenas para gente pequena, que tem um entendimento linear dos problemas complicados. Através da ternura pelas coisas naturais.

Ou

Não sei
até que ponto um pero
(uma maçã) ainda jovem,
mas colhido,
se retrai com a idade,
e envelhece
lento, sem apodrecer.

É bem possível, nas suas rugas,
que não chegue sequer à puberdade.


Ch. 8/4 - Sb. 11/4/15.

6 comentários:

  1. Também gostei do poema. Nunca ponderara sobre este tema, mas agora acho que não volterei a olhar para um pero da mesma forma. Bom Sábado!

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    1. Deixou-me lisongeado, Margarida..:-)
      Um bom fim-de-semana, também, para si!

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  2. Achei giríssimo, desde a foto até ao poema, passando pela prosa.
    Apetece-me perguntar se foi o APS que levou a pequena maçã do Norte para casa...ou se viu...ou se apenas criou...

    Desejo-lhe um bom sábado:)

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    1. Efectivamente, Isabel, fui eu que levei a maçãzinha ("descalibrada"), de Campo de Ourique, para casa..:-)
      Um bom fim-de-semana!

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