Se o (homem) civilizado pensa de uma maneira muito diferente do primitivo, é por uma predominância das reacções conscientes sobre os produtos inconscientes. Sem dúvida que estes últimos são a matéria indispensável, e por vezes do mais alto preço, dos nossos pensamentos, mas o seu valor depende, em última instância, da consciência.
O exercício (sport) intelectual consiste pois no desenvolvimento e controlo dos nossos actos interiores. Como o virtuoso do piano ou do violino consegue acrescentar-se artificialmente, pelos estudos, à consciência dos seus impulsos e de os dominar distintamente de forma a adquirir uma liberdade de ordem superior, também assim será necessário, na ordem do intelecto, adquirir uma arte de pensar, criando uma espécie de psicologia dirigida... É, pois, esta a graça que vos desejo.
Paul Valéry, in Variété III (pg. 286).
Nota: terminam, por hoje, as transcrições/traduções de Variété III. O quarto volume desta obra, de Valéry, iniciar-se-á, oportunamente.
Interessante. Não só concordo, como outro dia pensei em algo parecido: a maturidade tem a ver com a capacidade de controlar emoções de forma socialmente aceite - coisa que vamos aprendendo na infância e adolescência. Boa tarde!
ResponderEliminarCom a velhice, a tentação de "desbocar" acaba por vir a ser mais forte..:-)
EliminarMas, tirando "arte" ("...uma arte de pensar..."), que eu trocaria por "estratégia" ("de pensar"), parece-me um texto muito lúcido.
Boa tarde!
Ainda bem que continua...
ResponderEliminarBoa noite:)
É sempre um estímulo, para as traduções que vou fazendo, saber que a Isabel aprecia estas reflexões de Valéry..:-)
EliminarUm bom fim-de-semana!